sábado, 17 de maio de 2008

Resenha: A ordem informacional dialógica (parte A)_Elisangela

Resenha:
PIERUCCINI, Ivete. A ordem informacional dialógica: estudo sobre a busca de informação em educação. 2004. p. 07-49. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Motivada pela diversificada experiência em bibliotecas públicas, sobretudo na biblioteca Álvaro Guerra, na cidade de São Paulo e, entre outros projetos, como membro do grupo de criação de uma biblioteca escolar no município de São Bernardo do Campo, a autora, bibliotecária e professora no Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP, expõe neste capítulo de sua tese a problemática da busca, ou em outros termos, a pesquisa em dispositivos de informação e apropriação do conhecimento.

Atualmente, a velocidade, a natureza efêmera das situações e imediatismo das respostas, reflete o modo de formular e os procedimentos de solucionar questões, sobretudo para gerar compreensão, dar sentido e produzir conhecimento num mundo de instabilidades e incertezas.

Há diversos trabalhos, especialmente em países anglo-saxões (sobretudo Inglaterra, Estados Unidos e Canadá) e França, sobre a temática relacionada a este assunto. Muitos estudos são nomeados como educação por competência, como a autora demonstra ao citar diversos autores, dentre os quais destaca-se Perrenoud, porém, em alguns casos destaca-se ainda a visão instrucional da educação do usuário, ou da educação para a informação. Em geral, as propostas variam de acordo com a abordagem escolhida. Contudo, a noção de dispositivo é de primordial importância neste trabalho, pois é a interface que se articula entre o sujeito e o conhecimento e por meio deste as possibilidades de transformação de uma recepção passiva a uma atuação protagonista, distante da simples assimilação.

Embora os dispositivos de informação apareçam como instrumentos neutros, na prática fazem parte do conjunto e contexto responsáveis pela produção de conhecimento. Naturalmente nos sentiremos mais à vontade e incentivados à aprendizagem num ambiente, por exemplo, em uma biblioteca, bem sinalizada e acolhedora, mas este é apenas um dos importantes elementos deste cenário. A autora cita que ao oferecer um livro de histórias a uma criança, junto “é ofertado todo o quadro de valores, de representações, de conteúdos culturais que historicamente se agregam ao objeto livro” (p. 30).

Este exemplo permite uma analogia ao uso de computadores, em especial os aclamados sites de busca, atualmente tão presentes nos ambientes de educação. Com algumas tristes ressalvas poderíamos afirmar que, ao dispor destes recursos de tecnologia da informação, os estudantes e pesquisadores também estão diante de similar contexto do exemplo anterior, porém, com as possibilidades de ampliar as tramas de relacionamentos e sentidos.
Entretanto, a necessidade de mostrar-se eficaz (a pressa), a falta de orientação e preparo das bases referenciais para a busca/pesquisa podem resultar na mesma perplexidade que os profissionais das bibliotecas sentem ao se deparar com estudantes que desconhecem por completo o ambiente, o objeto da pesquisa e metodologia. Em alguns casos, infelizmente, com a mesma necessidade de ser eficaz, quem recebe o produto da pesquisa verifica apenas o resultado final, sem se interessar pelos caminhos trilhados.
Este cenário permite inferir que, assim como ocorrem às políticas públicas de doações de livros às escolas, ou ainda as campanhas como "bibliotecas em cada município", entre outras, de pouco adiantam fornecer equipamentos de informática à população se não houver instruções e preparo para que usufra do benefício proporcionado.

Assim, muito além da memorável tese de McLuhan “o meio é a mensagem”, com base em Platão a autora afirma que a informação é “técnica e tecnologia” (p. 32), posto que, atualmente, a informação é mediatizada, ocorre em todos os fluxos, da concepção, circulação, registro e recepção. Como Pieruccini afirma: "mediação e mediatização são, portanto, conceitos distintos que, apesar de tangenciais, não podem ser confundidos ou substituídos, em razão da natureza e capacidades de intervenção que operam sobre a relação sociocultural com o conhecimento e com a memória social" (p. 32).

Entretanto, se há a idealização de um acesso global ao mesmo conteúdo informacional, paradoxalmente há um distanciamento dos sentidos, do tempo e contexto em que a informação foi produzida, a “descontextualização do conhecimento” (p. 45).
Do mesmo modo, no processo de recepção do conteúdo, a idéia do imediatismo atual permite inferir que não há tempo hábil para refletir sobre como a informação foi concebida, pois também ocorre o distanciamento do “ad-mirar” do pensamento freireano, independente do dispositivo em que é apresentado.

A aceleração constante está presente em todos os ambientes e não é indiferente à área da Ciência da Informação e Educação. Nesta perspectiva crítica, a Infoeducação, como trabalha o grupo coordenado pelo Prof. Edmir, é termo de importante reflexão aos estudos das relações da Educação e Informação, de natureza tanto teórica como prática.

A autora aponta que por meio de permanentes negociações entre a informação, o meio e os sujeitos é possível superar a descontextualização, mas é necessário também ter o domínio dos dispositivos, suas técnicas e linguagens para o efetivo desenvolvimento de competências e apropriação do conhecimento, pois "a educação para a informação só ganha sentido efetivo se pensada em um quadro de redefinição da ordem informacional dos dispositivos" (p. 49).

Nenhum comentário: