terça-feira, 29 de abril de 2008

texto da aula de 28 abril_Savoir et connaissance

Module 1
Savoir et connaissance
Extrait de : Robert Tremblay, Vers une écologie humaine, Éd. McGraw-Hill, 1990, 172 pages, p. 121-123. [Reproduit avec autorisation].

« La connaissance : entre théorie et expérience

Un autre secteur d'activité de l'environnement culturel joue un rôle très important dans les rapports entre l'être humain et son milieu: celui du développement de nos connaissances. Mais qu'est-ce que la connaissance? Distinguons tout d'abord savoir et connaissance. Le savoir d'un individu ou d'une société est l'ensemble des représentations que cette personne ou cette collectivité tiennent pour vraies à propos de la réalité. Le concept de connaissance est plus restrictif, il recouvre l'ensemble du savoir pratique, des techniques et des sciences qui, d'une manière ou d'une autre, ont fait leurs preuves dans la pratique. Quelle que soit la conception qu'un individu ou un groupe se fait des critères de la scientificité, elle suppose toujours une certaine discrimination dans l'ensemble du savoir. À notre époque, la connaissance scientifique ne recouvre que les théories formellement correctes (logiques) et empiriquement validées (basées sur les faits). Il faut distinguer soigneusement ces trois concepts: le savoir, la connaissance et la science.

Comme nous pouvons le constater, la science est une forme particulière de connaissance alors que la connaissance est une forme particulière de savoir. Le savoir est basé sur l'opinion alors que la connaissance est basée sur la raison (qui est une forme spéciale de procédure pour établir ses opinions). Enfin, la science est basée sur la preuve (qui est une forme particulièrement rigoureuse de procédure rationnelle). Il existe donc un savoir non fondé sur la raison, comme il existe des connaissances valables mais non scientifiques. Ces distinctions sont importantes si l'on veut bien comprendre le sens de ce qui suit.

Figure 1: Savoir et connaissance



La connaissance pratique

À l'origine, l'humanité possédait deux formes élémentaires de savoir: la connaissance pratique et le mythe. La connaissance pratique se transmettait et s'enrichissait de génération en génération pendant que les techniques se perfectionnaient. D'abord chasseur-cueilleur, pêcheur et nomade, l'être humain est passé de l'utilisation de la hache de silex à la maîtrise des métaux, à l'élevage et à l'agriculture. Aujourd'hui, l'extension de notre connaissance pratique est considérable: elle va des techniques de construction aux soins domestiques, de l'électrotechnique aux soins de santé, de la mécanique à l'art de parler en public!

Communiquée d'abord sous forme orale et par l'exemple, comme au Moyen Âge dans la transmission des techniques artisanales entre un maître et ses apprentis, la connaissance pratique s'est ensuite inscrite dans les livres et est maintenant enseignée aussi bien dans la famille qu'à l'école ou à la télévision. La connaissance pratique est un vaste ensemble de techniques d'usage et de transformation de la matière autant que de production et de transmission d'informations. Dépendante d'un contexte culturel donné, elle n'en conserve pas moins un certain caractère de rationalité déterminé par les contraintes de la vie pratique. Manger, se vêtir, se loger, se déplacer, accomplir les diverses tâches essentielles à notre survie ou à la production des biens et services propres à un contexte social donné; l'accomplissement de toutes ces fonctions suppose l'apprentissage et la transmission d'une connaissance pratique qui est soit partagée par l'ensemble des membres adultes d'une collectivité (comment se servir d'un téléphone par exemple), soit le fait d'un sous-groupe particulier (par exemple les électriciens).

On néglige très souvent de considérer le rôle central de la connaissance pratique dans la vie sociale et individuelle. Il suffit pourtant de songer à l'abondance des apprentissages techniques auxquels sont soumis les enfants pour en mesurer l'importance. De la marche à l'utilisation des produits toxiques, de l'écriture à l'arithmétique, de la nage à l'utilisation des appareils électriques, l'enfant acquiert — en même temps que certaines valeurs et formes de jugements qui relèvent du savoir en général — une somme considérable de connaissances empiriques concernant l'usage des objets dans son environnement. Les ouvriers, les travailleuses, les artisans et les techniciennes sont des spécialistes d'une certaine connaissance pratique. Sans eux et elles, rien ne fonctionnerait et notre environnement se dégraderait rapidement! Leur importance sociale est sans égale, même si dans nos sociétés nous valorisons plus volontiers le travail intellectuel ou le travail de création que le travail manuel et technique. De manière générale, la connaissance pratique concerne le monde des activités concrètes et se transmet principalement sous la forme d'apprentissages techniques et d'applications.»

Complément

Veuillez maintenant lire l'article d'Encéphi consacré à la croyance.

Morin na Folha

Vocês leram a entrevista com Edgar Morin na Folha (Entrevista da 2a, 28 de abril de 2008 - Mal estar de 68 é ainda mais profundo hoje)? Com 87 anos e saracoteando num evento em Porto Alegre - invejável!

Reproduzo abaixo um trecho da entrevista, no qual ele analisa a internet e fala sobre comunicação e informação. Para ler na íntegra, segue o link:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2804200813.htm

bessos

Fernanda

FOLHA - Uma das maiores mudanças mundiais das últimas décadas, a internet, na sua opinião, afastou ou aproximou as pessoas?

MORIN - Se considerarmos o fato de a internet ser um instrumento polivalente, que serve até aos interesses do crime, acho que a rede aproxima as pessoas. A internet tornou-se um sistema nervoso artificial que tomou conta do planeta. É algo que ajuda muito na hora de desenvolver afinidades, encontrar amigos, amores ou parceiros de hobby. A internet é um fato universal importantíssimo. Mas os sistemas de comunicação não criam compreensão. A comunicação apenas transmite informação. É preciso estimular o surgimento de uma consciência planetária. Se a internet não desenvolver a idéia da comunidade de destinos da humanidade, terá apenas uma função limitada e parcelar.

Texto de Renata Sant'Anna sobre Corda Bamba, de Lygia Bojunga Nunes

Corda Bamba
Do outro lado da corda, os morangos silvestres

Maria vivia sem suas lembranças. A perda de seus pais havia apagado suas memórias de infância, sua vida estava sem palavras, sem imagens.
Ao abandonar o circo, ao ser levada para o outro mundo, o mundo da avó tão segura debruçada sob sua fortuna, Maria perde o fio que ainda a mantinha em equilíbrio – a corda bamba.
Ao passar para o outro lado da corda, o cabo de aço de sua memória, Maria reencontrava cada pedaço de sua vida, construindo sua narrativa. Embora não tenham sido suas as escolhas anteriores, as portas ela podia escolher. Qual abriria? A amarela? A vermelha? E o que atrás da porta encontraria?
- Maria
Atrás de cada cor estava um pouco de sua história, cada uma contava um capítulo de Maria, que nasceu de um amor clandestino, entre aquela que tudo tinha com o outro que tudo procurava.
Marcelo precisava “arriscar de morrer para poder viver”. Reencontrou a coragem para viver a corda bamba – a paixão.
Márcia precisava arriscar de viver para morrer. Entre a terra firme e a corda bamba, ela escolheu a liberdade – o amor.
Das escolhas de Marcelo e Márcia, nasceu Maria.
Agora, outra história se escrevia.
Maria recolhia seus morangos, sabores e dissabores de uma vida passada, curta, ainda, mas longa pela distância do esquecimento, do sofrimento em preto e branco que cada porta coloria.
Ao abrir as portas de sua memória, o professor também recolhia seus morangos. Lembranças de sua longa trajetória, esquecidas atrás de portas que há muito tempo não abria. O professor havia colhido mais morangos que Maria. Era homem concursado, honrado e premiado, mas que reencontrou sua história de vida.
Os dois encontraram em seus sonhos o fio entre o passado e o presente. Ambos procuravam esticar a corda e manter-se em equilíbrio.
Vivemos na corda bamba. Somos equilibristas em uma frágil linha chamada vida.
Fechamos e abrimos portas. Somos protagonistas de nossas vidas. Narradores de nossas histórias.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Resenha sobre texto de Bruner da Karen

BRUNER, J. O estudo adequado do homem. IN: _____. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 15-38.

No prefácio de seu livro Atos de Significação, Jerome Bruner nos apresenta uma linda metáfora: os livros são como cumes de montanhas que emergem do mar. Mas, conquanto possam parecer ilhas inteiramente separadas , são elevações ligadas por uma geografia submersa que é,a um só tempo,localizada e parte de um padrão universal.Isto me lembrou J. L. Borges e sua biblioteca de areia, sem começo nem fim, modificando-se com o vento que move a corda bamba,todos os livros do mundo compondo um único livro de um único autor.

Como reconciliar as visões do Homem como indivíduo singular com as visões de si próprio tanto como uma expressão da cultura como quanto um organismo biológico?
Impossível não estabelecer relação entre o discurso de Edgar Morin ( Os Sete Saberes...) com o de Bruner, e suas tentativas de compreender o Homem com um ser não apenas biológico,mas sobretudo cultural. Bruner afirma que o que deseja neste seu livro é argumentar que a cultura e a busca por significado são a mão modeladora, a biologia seria a restrição e que caberia á cultura o poder de afrouxar estas limitações.

Bruner volta ao século XIX e ao estilo laboratorial da psicologia positivista (reducionismo, previsão, explicação causal) e, a partir daí, compara a psicologia com suas disciplinas irmãs nas ciências humanas que se abriram a novas questões sócio-culturais e históricas contra o estreitamento que tomou a psicologia no mesmo período . Parte deste princípio e daí formula sua’ Psicologia Cultural’.

O centro de sua questão é verificar ,comparativamente, o que seria a ‘natureza humana’ e o que seria expressões de diferentes culturas.Tocando em assuntos tabu como mente, estados intencionais , significado , construção da realidade ,regras mentais,formas culturais e similares tem como objetivo enfatizar a produção de significados e o lugar central que ela ocupa na ação humana: o que o homem faz de seu mundo, dos seus semelhantes e de si mesmo.

Seu livro subdivide-se em quatro capítulos : O Estudo Adequado do Homem;A Psicologia Popular como um Instrumento da Cultura;Ingresso no Significado;Autobiografia e Si- Mesmo.Tratarei aqui das principais idéias do primeiro capítulo.

O ator toma como ponto de partida a Revolução Cognitiva ,que procurou trazer a mente de volta às ciências , após longa fase de obscurantismo.Bruner percorre o caminho desde o exame retrospectivo da revolução cognitiva e seu impulso originário até voltar-se à exploração preliminar de uma revolução cognitiva renovada—uma abordagem mais interpretativa e cognição,interessada na produção de significado que tem se mostrado prolífica na antropologia lingüística, filosofia, teoria literária,e na psicologia.

Seu impulso originário seria descobrir e descrever finalmente os significados que os seres humanos criavam a partir de seus encontros com o mundo e então levantar hipóteses sobre que processos de produção de significados estavam implicados.Na revolução cognitiva originalmente concebida a psicologia une forças com ciências humanas irmãs e até mesmo com o Direito, num esforço não apenas para reformar,mas para substituir o comportamentalismo.Entretanto, este impulso inicial tornou-se fragmentado , tecnicizado e ,muito cedo , a ênfase começou a mudar do ‘significado’ para ‘informação’, da construção do significado para o processamento de informações. Para tanto,o fator central para esta mudança foi a introdução da computação e a informatização como metáfora do bom modelo teórico.

Ora, numa informação o significado é previamente atribuído às mensagens. A partir de uma unidade de controle central, pode-se manipular informações predeterminadas : listar, ordenar, combinar; sem perceber diferenças entre tais informações. Tal sistema não seria capaz de lidar com a imprecisão, com a polissemia, metáforas. Contudo, na década de 50, os computadores e a teoria computacional tornaram-se a ‘metáfora - raiz ‘ para o processamento das informações e a computação tornou-se o modelo da mente: os processos cognitivos foram igualados aos programas. Assim, o interesse da psicologia acadêmica desviou-se da mente e do significado para computadores e informação.Este novo reducionismo forneceu um programa libertário para a ciência cognitiva –livraram-se dos processos mentais e dos significados. Estímulos e respostas são agora substituídos por input e output.

Estados mentais e intencionalidade foram sistematicamente atacados, assim como o conceito de agenciamento ,que implica a condição da ação sob a influência de estados intencionais,uma espécie de livre arbítrio para os deterministas.

Começando a segunda parte do capítulo com o conceito de cultura, Bruner a compara com um kit de ferramentas para, posteriormente, concluir que “sem o papel constitutivo da cultura somos monstruosidades não trabalháveis, animais incompletos ou inacabados.” Segundo o autor, a psicologia foi lenta em captar plenamente o que o surgimento da cultura significou para adaptação e para o funcionamento humanos:” produto da história, e não da natureza, a cultura agora tornou-se o modelo ao qual nós tínhamos que nos adaptar e o kit de ferramentas para fazer isso”.
Assim como nosso meio de vida culturalmente adaptado depende da partilha de significados e conceitos também dependeria de modos compartilhados de discursos para negociar diferenças de significado e interpretação.

Segundo Bruner, a psicologia popular inclui a teoria da mente.Além disso, lida com a natureza, a causa e conseqüências dos estados intencionais.Apesar de mudar e não ser sempre a mesma ,ela muda com as transformações culturais que ocorrem em resposta ao mundo e às pessoas que vivem nele.Tal psicologia , a popular, causou alarme quando elevou a subjetividade a um status explicativo. “ Em uma psicologia de orientação cultural dizer e fazer representam uma unidade de funcionamento inseparável”.O relacionamento entre agir e dizer é interpretável no contexto da conduta comum da vida.

Quando relações canônicas são violadas, há procedimentos de negociação para retomarmos o caminho habitual:isso é o que torna central em sua psicologia cultural a interpretação e o significado.Bruner deixa claro que isto não invalidaria a busca por universais humanas.Esclarece também que na versão falaciosa do século XIX a cultura foi concebida como sobreposta à natureza humana biologicamente determinada: “ ao contrário,o substrato biológico e as universais da matéria humana exercem, no máximo,uma restrição ou uma condição”.

Nossos desejos e as ações que praticamos em seu nome são intermediados por meios simbólicos. Neste sentido,se a realidade é uma construção de um ponto de vista “devemos focalizar a atenção onde ela é devida, isto é, não sobre nossas limitações biológicas, mas sobre nossa inventividade cultural”.

Encerrando seu primeiro capítulo de Atos de significação, Bruner nos sugere que a mentalidade aberta é a pedra fundamental do que denomina cultura democrática. O construtivismo da psicologia cultural exige que sejamos conscientes de como alcançamos nossos conhecimentos e o mais conscientes que pudermos sobre os valores que nos conduzem aos nossos pontos de vista .

Observação: meu estado intencional era o de entregar esta resenha no sábado...mas a faceta biológica do ser humano foi minha restrição...
Karen Kipnis

domingo, 27 de abril de 2008

Texto relativo ao texto de Jerome Bruner

Boa noite!
Espero que todos estejam bem.

Lamento informar que desta vez a minha resenha é bem diminuta e não cobre todo o capítulo 1 de Atos de significação por 3 razões:
1. Por mais incrível que pareça, quando comecei a ler o texto, descobri que o meu exemplar da cópia xerocopiada tinha apenas as páginas da frente!! As páginas do verso estavam em branco!! Logo, eu tinha apenas metade do capítulo!!
2. Para piorar, esta semana eu fiquei doente, com uma infecção na garganta, de modo que não pude ir a USP para tirar a cópia inteira.
3. A publicação brasileira de Atos de significação está mais do que esgotada, não a achei nem na Estante Virtual, de modo que precisei me resignar e trabalhar com a minha meia cópia.

Enfim, vamos ao que interessa:


BRUNER, Jerome. O estudo adequado ao homem. IN: Atos de significação. Porto Alegre, Artmed, 1997. p.13-38

Lendo este texto (ou, pelo menos o que pude ler dele), percebi algumas semelhanças com o pensamento de Edgar Morin, a saber: a dualidade biológica-cultural do homem, valorizando a importância da cultura, a importância da tolerância e do conhecimento dialético (dialética sim, dogmatismo não) e a importância da democracia.
Vejamos:

Assim diz Bruner:
O divisor na evolução humana foi cruzado quando a cultura se tornou o fator principal para dar forma às mentes daqueles que viviam sob sua influência. Produto da história e não da natureza, a cultura agora tornou-se o mundo ao qual nós tínhamos que nos adaptar e o kit de ferramentas para fazer isso (...) Como Clifford Geertz coloca, sem o papel constitutivo da cultura nós somos monstruosidades não trabalháveis... animais incompletos ou inacabados que se completam ou acabam através da cultura”

Esta afirmação faz-me lembrar das seguintes palavras de Morin:
“O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível.”
(MORIN:2000, p.52)

Outra fala de Bruner:
“Se a cultura forma a mente, e se as mentes emitem estes julgamentos de valor, nós não estamos enclausurados num relativismo inescapável? Seria melhor que que examinássemos o que isso poderia significar. É o lado epistemológico do relativismo, e não o avaliatório, que deve nos preocupar em primeiro lugar. O que conhecemos é absoluto, ou é sempre relativo a alguma perspectiva, a algum ponto de vista? (...) em grande parte da interação humana as “realidades” resultam de processos prolongados e intricados de construção e negociação, profundamente imbricados na cultura. (...) A alegação básica do construtivismo é simplesmente de que o conhecimento é “certo” ou “errado” à luz do ponto de vista que escolhemos assumir. (...) O melhor que podemos esperar é que estejamos cientes do nosso próprio ponto de vista, assim como do ponto de vista dos outros, enquanto fazemos nossas reivindicações de “correção” ou de “erro”. (...) Tudo o que podemos esperar é um pluralismo viável apoiado numa disposição para negociar diferenças entre distintas visões de mundo.”

Tais afirmações de Bruner remetem às questões de tolerância e conhecimento dialético de Morin.
“A verdadeira tolerância não é indiferente às idéias ou ao ceticismo generalizado. Supõe convicção, fé, escolha ética e ao mesmo tempo aceitação da expressão das idéias, convicções, escolhas contrárias às nossas. A tolerância supõe sofrimento ao suportar a expressão de idéias negativas ou, segundo nossa opinião, nefastas, e a vontade de assumir esse sofrimento.”
(MORIN:2000, p.102)

“A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe resiste. Opera o ir e vir incessante entre a distância lógica e a instância empírica; é o fruto do debate argumentado das idéias, e não a propriedade de um sistema de idéias. O racionalismo que ignora os seres, a subjetividade, a afetividade e a vida é irracional. (...) A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela capacidade de identificar suas insuficiências”
(MORIN:2000, p.23)

Outra fala de Bruner que percebi ecoar Morin (digo ecoar porque li Morin primeiro) é a importância que ele atribui a democracia.
Vejam só:
“Este tema conduz diretamente ao último assunto geral que eu me sinto na obrigação de firmar como uma razão adicional pela qual acredito que uma psicologia cultural como a que estou propondo não precisa atormentar-se com o espectro do relativismo. Ela se refere a mentalidade aberta, seja em política, ciência, literatura, filosofia ou artes. Eu considero a mentalidade aberta como uma disposição para construir conhecimento e valores a partir de perspectivas múltiplas, sem perda do comprometimento com os nossos próprios valores. Mentalidade aberta é a pedra fundamental do que nós denominamos cultura democrática. (...) Como todas as culturas, ela se fundamenta em valores que geram estilos de vida, com as correspondentes concepções de realidade. (...) Eu considero o construtivismo da psicologia cultural como uma expressão profunda da cultura democrática.”

Vejamos a fala de Morin:
“A democracia necessita ao mesmo tempo de conflitos de idéias e de opiniões, que lhe conferem sua vitalidade e produtividade. (...) Desse modo, exigindo ao mesmo tempo consenso, diversidade e conflituosidade, a democracia é um sistema complexo de organização e de civilização políticas que nutre e se nutre da autonomia de espírito dos indivíduos, da sua liberdade de opinião e de expressão, do seu civismo, que nutre e se nutre do ideal Liberdade, Igualdade, Fraternidade...”
(MORIN:2000, 108)

Havia outras falas muito interessantes de Bruner, entretanto elas ficaram truncadas pela ausência das páginas do verso, de modo que preferi abster-me de mais comentários.
Até a próxima!!

sábado, 26 de abril de 2008

Resenha: O estudo adequado do homem_Elisangela

Olá!

Segue a minha resenha.

Bjs e bom final de semana,

Elisangela

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BRUNER, J. O estudo adequado do homem. IN: _____. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 15-38.

O autor faz uma crítica à psicologia atual e avalia que o aparente sucesso da Revolução Cognitiva se tornou alienado, fragmentado e tecnicizado ao custo da desumanização do próprio conceito de mente como processador de informações.

Bruner inicia o capítulo com um breve resgate histórico do último quarto de século sobre o que entendia por Revolução Cognitiva cuja meta “era descobrir e descrever formalmente os significados que os seres humanos criavam a partir de seus encontros com o mundo e então levantar hipóteses sobre que processos de produção de significados estavam implicados” (p. 16). Há deste modo, a questão da interdisciplinaridade que a partir da psicologia unia forças com outras disciplinas da área de humanidades e nas ciências sociais e proporcionou a criação de diversos centros de estudo preocupados com a psicologia cultural, com a filosofia da mente e da linguagem.

Mas a ênfase mudou do “significado” para a “informação”. De acordo com Bruner, “o fator-chave da mudança foi a introdução da computação como a metáfora reinante e da informação como um critério necessário para um bom modelo teórico” (p. 17). Pensava-se que tanto a mente humana quanto os processos virtuais dos computadores poderiam ser “explicados” da mesma forma. No entanto, o autor lembra também que uma mensagem é informativa quando reduz as alternativas de escolha e tais sistemas não são capazes de lidar com a imprecisão, a polissemia, etc. Por mais que seja de conhecimento a necessidade da inteligência humana por trás do processamento das informações, termos como “Inteligência Artificial” – “IA” são tão propagados e inseridos no mercado que de fato muitos vezes não reparamos em seus significados.

Para o autor, a cultura é a principal marca da evolução humana, pois é “produto da história, e não da natureza, a cultura agora se tornou o mundo ao qual nós tínhamos que nos adaptar e o kit de ferramentas para fazer isso” (p. 22). Esta afirmação é feita por três razões:

1ª ponto metodológico: o argumento constitutivo, pois “tratar o mundo como um fluxo indiferente de informações a ser processada pelos indivíduos, cada qual em seus próprios termos, é perder de vista como os indivíduos são formados e como eles funcionam” (p. 22).

2ª o significado é tornado público e compartilhado - “vivemos publicamente através de significados públicos, compartilhados por procedimentos públicos de interpretação e negociação” (p. 23). Assim, é necessário que a interpretação seja publicamente acessível para que a cultura não entre em desordem, bem como os indivíduos que dela fazem parte.

3ª a psicologia popular, frequentemente indistinguível da história cultural e muda com as transformações culturais que ocorrem em resposta ao mundo e seus habitantes, mas resiste a ser reduzida à objetividade e, portanto, está arraigada em uma linguagem e em uma estrutura conceitual compartilhada como crenças, valores, preconceitos, etc.

A seguir Bruner trata do alarme movido pelo positivismo da psicologia científica em não adotar como explicações noções originadas no estado intencional, bem como ao relativismo que requer uma teoria diferente para cada cultura que estudamos. O autor alerta sobre a valorização do agir “o que as pessoas fazem”, do que o que as pessoas “dizem”, porém mediada pela observação do comportamento.

Em contrapartida, a psicologia de orientação cultural não descarta as reflexões sobre os estados mentais, “há uma congruência interpretável entre dizer, fazer e as circunstâncias nas quais o dizer e o fazer ocorrem” (p. 27).

O autor também critica a simplicidade do construtivismo em apontar o “certo”, ou “errado” de acordo com o ponto de vista que escolhemos assumir, pois não há verdades e falsidades absolutas. Neste tópico do relativismo, há duas visões psicológicas: “romantico-irracionalista” sustenta que os valores são funções de reações viscerais, conflitos psíquicos deslocados, etc., e os “racionalistas”, derivada principalmente da teoria racional que defende a expressão dos nossos valores nas nossas escolhas, orientados por modelos de utilidade e pela teoria econômica. “À medida que os racionalistas levam a cultura em consideração, ela é como uma fonte de provisão, um armazém de valores a partir dos quais fazemos nossas escolhas em função dos nossos impulsos ou conflitos individuais” (p. 33).

Porém, é necessário considerar que o “estilo de vida” e as rápidas mudanças da vida moderna poderão criar conflitos de comprometimento e incertezas que para superá-las é necessário a disposição para negociar as diferenças e a “mentalidade aberta como uma disposição para construir conhecimento e valores a partir de perspectivas múltiplas, sem perda de comprometimento com os nossos próprios valores” (p. 34).

Na última parte do capítulo Bruner contrapõe a psicologia científica em seu “direito de negar a eficácia causal dos estados mentais e da própria cultura” (p. 35) e a psicologia popular “das pessoas comuns” baseada nas crenças e costumes populares. Neste ponto que começa a psicologia, interdisciplinar a outras ciências culturais, pois muito além das restrições da razão biológica, a cultura e a busca por significado são a mão modeladora das limitações impostas à psicologia popular.

Fichamento de Estudo adequado do homem, por Cristiane

Olá pessoas,

aí está meu fichamento.

Bom fds.

Bjs
Cris

BRUNER, J. O estudo adequado do homem. In: BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

Jerome Bruner, no livro Atos de significação, faz uma crítica da situação da psicologia atual, avaliando a revolução cognitiva e discutindo a mudança na sociedade com o avanço dos processos computacionais. A primeira parte do livro, “O estudo adequado do homem”, está subdivido em seis partes, e discute a importância da cultura e seus possíveis desdobramentos para a psicologia.

A primeira parte trata da Revolução Cognitiva. Bruner faz um pequeno panorama histórico dessa revolução, das co-ligações entre as diversas áreas do conhecimento – Filosofia, antropologia, lingüística, entre outros – e, principalmente, discorre sobre a importância da computação e da informatização nesse processo. Na página 17, o autor fala que “muito cedo, por exemplo, a ênfase começou a muda do ‘significado’ para a ‘informação’, da construção do significado para o processamento de informações.” E que “a informação é indiferente ao significado. Em termos computacionais, a informação abrange uma mensagem já pré-codificada no sistema. O significado é previamente atribuído às mensagens. Não é um resultado da computação, nem é relevante para a computação, salvo no significado arbitrário de uma atribuição.” Bruner fala também da Revolução da informática e do uso do termo Inteligência Artificial pelos cientistas cognitivos. Termina o sub-capítulo lembrando que “não há dúvidas de que a ciência cognitiva contribuiu para a nossa compreensão de como a informação é continuamente transferida e processada. Nem pode haver muita dúvida sobre o fato de que ela deixou em grande parte sem explicação, e até mesmo um tanto obscurecidos, os grandes tópicos que originalmente inspiraram a revolução cognitiva.”

Na segunda parte, o autor destaca três razões para utilizar o conceito de cultura em seu texto. A primeira razão, base para as outras, é o argumento constitutivo: “é a participação do homem na cultura e a realização de seus poderes mentais através da cultura que tornam impossível construir uma psicologia humana baseada apenas no indivíduo.” (página 22). A segunda razão fala sobretudo de significados. Parte do pressuposto de que “a psicologia está tão imersa na cultura, que deve se organizar em torno a esses processos produtores e utilizadores de significado que conectam o homem à cultura. (...) Em virtude da participação na cultura, o significado é tornado público e compartilhado. Nosso meio de vida culturalmente adaptado depende da partilha de significados e conceitos.” (página 23). A terceira razão é chamada pelo autor de “psicologia popular”: “um relato cultural do que faz os seres humanos pulsarem” (pág. 23) Para o autor, por ser um reflexo da cultura, a psicologia popular partilha seus modos de valorizar e de conhecer. Ela muda com as transformações culturais que ocorrem. E é através dela que as pessoas julgam umas as outras e estabelecem conclusões sobre o valor de suas vidas e assim por diante.

A terceira parte é dedicada à discussão sobre a psicologia cultural. O autor apresenta rapidamente as dificuldades levantadas pelos cientistas comportamentais em relação à essa psicologia (que serão discutidas no outros tópicos) e trata de analisar seus pontos principais. Para Bruner, uma psicologia culturalmente sensível “é, e deve ser, embasada não apenas no que as pessoas realmente fazem, mas no que elas dizem que fazem e no que elas dizem que as fez fazer o que elas fizeram. Ela também está interessada no que as pessoas dizem que os outros fizeram e porquê” (pág. 25). O autor mostra a importância da psicologia cultural: tomar com central que o relacionamento entre agir e dizer é interpretável no contexto da conduta comum da vida. “Uma psicologia cultural não estará preocupada com comportamentos, mas com ações” (pág. 27).

Bruner discute, na quarta parte do texto, a questão do substrato biológico, a idéia de uma restrição sobre a ação e os dispositivos simbólicos construídos pelo homem para superar tais restrições. O autor defende que a questão de restrição não é demasiadamente negativa, visto que desafia o homem a superá-la. Ele argumenta em todo o livro que a “cultura e a busca de significado são a mão modeladora, a biologia é a restrição e cabe à cultura deter o poder de afrouxar essas limitações.” (pág. 30).

A quinta parte é dedicada ao relativismo. O autor traz alguns exemplos e autores para trazer à discussão a questão do construtivismo e do pragmatismo. Mas ele não os contrapõe, ao contrário. Para o autor, “o relativismo não é a pedra onde tropeçam o construtivismo e o pragmatismo.” (pág. 32). Outro assunto discutido pelo autor na sua defesa da psicologia cultural X relativismo é a mentalidade aberta. O autor a considera uma “disposição para construir conhecimento e valores a partir de perspectivas múltiplas, sem perda do comprometimento com os nossos próprios valores.” (pág. 34).

A última parte do texto retorna à posição adversa da “psicologia científica” em relação “a psicologia popular”. “A psicologia científica insiste bastante adequadamente em seu direito de atacar, debater e até mesmo substituir os princípios da psicologia popular.” (pág. 35). Diante do quadro de embate mostrado, o autor termina o texto mostrando que a psicologia científica deve repensar sua postura e suas “verdades”, e que deve considerar que as verdades sobre a condição humana são relativas ao ponto de vista assumido. Bruner fecha o texto mais uma vez afirmando a necessidade da análise da psicologia popular: “ela atingirá uma posição mais efetiva em direção à cultura como um todo quando vier a reconhecer que a psicologia popular das pessoas comuns não é apenas um conjunto de ilusões autoconfortadoras, mas inclui as crenças da cultura e as hipóteses de trabalho sobre o que torna possível e gratificante a vida em comum. (...) A psicologia popular precisa de explicações, não de desculpas.” (pág. 36).

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Resenha de Atos de Significação de Jerome Bruner_por Luciana

Resenha de Atos de Significação de Jerome Bruner_por Luciana

Resenha sobre texto inserido na obra Bruner, J. Atos de Significação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997_por Luciana Rodrigues.


O professor Jerome Bruner atual pesquisador da UNY, que nos anos de 1950 formou em Harvard um grupo interdisciplinar que deu origem o Centro de Estudos Cognitivos, vê o processo mental como constituidor e constituído pelos contextos sociais, sendo a toda a mente, como mente social, criadora de significados. Todos os seres humanos são produtores de significados e deles resultam, através do uso de sistemas simbólicos de cultura. O foco de uma psicologia social seria a de analisar as ações e seus caracteres situacionais e a criação dos significados. Seus estudos foram fundamentais para constituição de uma Psicologia Cultural.

Bruner, em Atos de Significação, critica os rumos enveredados por algumas correntes psicológicas. Na página 17 ele aponta: ““... a ênfase começou a mudar do ‘significado’ para a ‘informação’, da ‘construção’ do significado para o ‘processamento’ de informações”. Uma informação, ressalta, que acaba por ignorar o significado. Esse seria o que Bruner chama de modelo computacional da psicologia.

A psicologia, avalia, passou por algumas revoluções. NA primeira lutou-se contra um distanciamento positivista do seu real objeto em lugar de um estudo sobre as atividades simbólicas dos seres humanos, mas essa superação logo resultou em uma nova postura conservadora, em um novo distanciamento.

A segunda revolução, interpretativista, na Psicologia surgiu, para Bruner, para entender a mente no processo de produção de significados e sua interação com a cultura, uma revolução cognitiva. A psicologia teria uma orientação cultural. Não só QUEM o sujeito é, mas todo o seu entorno, inclusive onde nasceu, suas atitudes, falas e situações deveriam ser estudados, suas intenções, aspirações e crenças. A Psicologia Cultural seria focada na questão do self (si- mesmo), nos significados e seus usos práticos:

Parece-me que uma Psicologia Cultural impõe duas exigências intimamente relacionadas com o estudo do si-mesmo. Uma delas é que tais estudos devem focalizar os significados em cujos termos o si-mesmo é definido tanto pelo indivíduo como pela cultura na qual ele participa. (...) A segunda exigência, então, está em sintonia com as práticas nas quais os significados do si-mesmo são atingidos e colocados em uso. Esta, com efeito, nos oferece uma visão mais distribuída do si-mesmo. (BRUNER, 1997: 101)


Os conhecimentos de todos os indivíduos têm como alicerce o contexto social, o self situa-se cultural e historicamente. Os conhecimentos não se encontram isolados, mas distribuídos em infinitos suportes que permitem usos específicos para diferentes situações.

A criança, desde o nascimento, começa a construir significados, estabelecendo comunicações estruturadas, que vão se enriquecer ainda mais com o desenvolvimento da linguagem.

As análises de Bruner se concentram em alguns aspectos bastante importantes para a questão da educação, pois ele considera o contexto educacional o ideal para testar a psicologia cultural, seja observando como a cultura influencia a aprendizagem, seja verificando seu papel capacitador no desenvolvimento mental. O desenvolvimento intelectual viria do amadurecimento do aluno no processo de exploração de alternativas, propiciadas pelos ambientes abertos ou conteúdos do ensino, aprendizagem por descoberta, através de situações de desafio que levem a resolução de problemas. O brincar adquire grande importância nessas descobertas, Os jogos, como o esconde- esconde, são os primeiros momentos de linguagem da criança, onde uma situação de ritualização agente-ação – objeto-
Sinalização se estabelece com a mãe.

A narrativa se situa entre as brincadeiras infantis e conversas dos adultos, como instrumento de organização destas experiências multidimensionais. As narrativas permitem às crianças sentidos e continuidade. Na narrativa infantil as crianças gradativamente organizam relações lógicas multidimensionais. A narrativa, ocupando um lugar essencial na investigação da mente, seria o princípio organizador da experiência humana, uma forma de dar acesso aos dados e oferecer subsídios à Psicologia Cultural.

Bruner declara que as narrativas, como expressões de forças sociais e históricas, mantém suas características, não importa se imaginárias ou reais, e são que essas hasteiam a questão sobre sua origem. A narrativa possui relação com o significado dado pelo autor às coisas e envolve a negociação e renegociação de significados entre os seres.

As experiências, o material de ação e intencionalidade humanas, dos indivíduos seriam transformadas em narrativas e isso não pode ser ignorado pela Psicologia (tal como fez a Cognitiva, critica Bruner), pois nelas residiriam interpretações da vida em ação. A linguagem seria uma das principais ferramentas da investigação psicológica para busca dos significados. A linguagem não apenas transmite, mas cria realidades e consciências.

Caberia à psicologia interpretativa buscar “as regras que os seres humanos aplicam para a produção de significado em contextos culturais” , valorizando tanto aspectos biológicos quanto as culturas nas quais estão inseridos os indivíduos

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Da informação à sabedoria

Pessoal,

“Onde a vida que perdemos no viver? Onde a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde o conhecimento que perdemos na informação?”

o trecho acima é de um poema do T.S. Eliot, que encontrei na coluna do jornalista Daniel Piza na revista da compania aérea Ocean Air. Achei que tanto o poema do Eliot como o texto do Piza tinham tanto a ver com as nossas reflexões que ousei postá-lo neste espaço, de certa forma exclusivo para as resenhas do Infoeducação, para que todos pudessemos lê-lo.

beijos a todos

Fernanda

Daniel Pizza/ fonte: Revista Ocean Air / 01 de fevereiro de 2008
http://www.danielpiza.com.br/interna.asp?texto=2298

T.S. Eliot fez em poema algumas perguntas que não poderiam ser mais atuais: “Onde a vida que perdemos no viver? Onde a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde o conhecimento que perdemos na informação?” Hoje vivemos na chamada Era da Informação, mas me parece claro que o conhecimento individual não aumentou, muito menos a sabedoria... Eliot, poeta e ensaísta americano que foi um dos gênios do século 20, tocou no ponto certo ao distinguir esses três níveis: informação, conhecimento e sabedoria. No entanto, acho fundamental que se diga que não é por culpa da informação que não temos conhecimento, nem por culpa do conhecimento que não temos sabedoria.Está mais do que na hora de usar os termos adequados para cada coisa. O que muitas vezes é classificado como “informação” deveria, na verdade, ser chamado de “dado”. Se você disser, por exemplo, que John Maynard Keynes é “um economista inglês”, terá apenas um dado. Se souber resumidamente o que Keynes pensava – a tese de que a máquina pública tem papel essencial na recuperação das economias em recessão, porque seu déficit impulsiona a atividade a tal ponto que será superado depois de alguns anos –, então terá uma informação, ou seja, um dado contextualizado com outros dados. E se você entender que Keynes desenvolveu essa tese justamente quando o Ocidente vivia a crise do entre-guerras, e que mais tarde reviu suas idéias em função do cenário posterior à Segunda Guerra, então terá conhecimento, ou seja, um conjunto de informações vistas em seu peso relativo, em seu valor específico.E a sabedoria? A sabedoria é o conhecimento transformado em modo de vida. Não existe uma fórmula perfeita para a existência, mas a sabedoria se revela na forma como um indivíduo não permite que esse conhecimento seja fossilizado em certezas perenes, em presunção imutável. Um economista seria sábio se tentasse pensar o que Keynes pensaria caso estivesse em seu lugar e tempo, apenas como exercício de percepção, e não se quisesse repetir Keynes. O próprio Keynes seria o primeiro a dizer que, se os fatos mudam, as opiniões devem mudar também. Mas sabedoria não é ter a opinião certa, é mantê-la aberta. Para isso servem os dados e as informações: para que o conhecimento seja sempre revisto.“Depois de tanto conhecimento, qual perdão?”, perguntou ainda Eliot, que era tão conservador que se dizia “monarquista, anglicano e classicista”. Ter muito conhecimento não é pecado. Pecado é esquecer que não existe conhecimento disponível no mundo para que saibamos tudo, para que deixemos de ser ignorantes sobre tantas coisas dentro e fora de nós mesmos. Sábio é sempre duvidar do que se conhece. Só assim a vida será vivida em sua grandeza, em vez de desperdiçada. Acesso às informações já temos. Falta saber o que faremos com elas.

Considerações sobre dois textos de Walter Benjamin: O Narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov e Experiência e Pobreza

Por Maria Fernanda Salles de Aguiar

Para começo de conversa, antes de dar início a resumo, resenha ou qualquer que seja a modalidade mais adequada de avaliação escrita dos textos sugeridos para a próxima aula, gostaria de dizer que à maneira do que o próprio autor propõe no livro, a leitura destes textos provocou em mim uma sensação de “experiência profunda” (com o perdão da pieguice), do tipo experimentado pela melhor literatura. Vem daí a dificuldade que sinto de discorrer sobre os temas abordados ali, por inútil, por insignificante que me soe este esforço, uma vez que o autor diz, por meio deles, tanto e tão profundamente. O que não invalida o sempre louvável exercício da reflexão.

A narrativa, para Benjamin, é o relato da experiência vivida, a transmissão de informações significativas, que se compõem com a experiência do ouvinte e produz uma nova experiência, ligada à realidade prática. Ele diz, logo no começo do primeiro texto, que a narrativa está em vias de extinção e que “são cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente” (pg. 197). Essa afirmação, muito instigante a meu ver, remete o leitor à análise da forma como nos relacionamos com a informação nos dias de hoje, ou seja, algo que de certa forma pode ser resumido nas expressões “comunicação de massa” e “sociedade da informação”.

Será que as sociedades perderam a habilidade de gerar comunicação legítima e verdadeira em nome de uma informação-produto-de-consumo? Que tipo de estímulo e que veículos seriam capazes de levar a uma comunicação significativa, à exemplo da experiência literária de Leskov, conectada com as pessoas, seu lugar e seu tempo?

Embora afirme que “as ações da experiência estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo” (pg. 198), Benjamin ressalta que a forma de narrar se altera através dos tempos, gradativamente, de acordo com a história da civilização e seus modos de produção. O autor deixa claro que o processo de extinção da “verdade épica” não se trata de saudosismo, de desvalorização do presente em detrimento de um passado inalcançável.

“Nada seria mais tolo que ver nele um ‘sintoma de decadência’ ou uma característica ‘moderna’. Na realidade, esse processo, que expulsa gradualmente a narrativa da esfera do discurso vivo e ao mesmo tempo dá uma nova beleza ao que está desaparecendo, tem se desenvolvido concomitantemente com toda uma evolução secular das forças produtivas.” (pg.201)

Sabemos, atualmente, que os modos de produção na sociedade de massa determinam os meios de comunicação e que estes se transformaram em instrumentos fundamentais para a perpetuação da cultura de consumo num sistema que, não me parece exagerado afirmar, engole toda e qualquer cultura.

“Se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é responsável por este declínio”, afirma o autor. E embora reconheça a pobreza de um sistema de informações que, segundo Benjamin, nos reserva o papel de mero leitor de “fatos que já chegam acompanhados de explicação” (pg. 203), fico aliviada de me lembrar da existência de teorias comunicativas que entendem o sujeito como um interlocutor capaz de produzir cultura na interação com os meios de comunicação (Stuart Hall, Jesús Martín Barbero) – ainda que Benjamin não esteja aludindo, neste caso, aos meios de comunicação propriamente ditos, mas à evolução das formas narrativas na nossa civilização, cuja evolução coincide com a incrível expansão dos meios.

Diante das peculiaridades da vida de Benjamin e da estatura da obra que produziu, procuro imaginar como ele se posicionaria diante das questões que se apresentam com o advento e o desenvolvimento da Internet.

Vislumbro a possibilidade de haver esperança quanto a isso, em seu próprio texto, quando ele fala sobre a reminiscência, “que funda a cadeia da tradição e transmite os acontecimentos de geração em geração”. Sobre a reminiscência ele diz:

“Ela inclui todas as variedades da forma épica. Entre elas, encontra-se em primeiro lugar a encarnada pelo narrador. Ela tece a rede que em última instância todas as histórias constituem entre si. Uma se articula na outra, como demonstraram todos os outros narradores, principalmente os orientais. Em cada um deles vive uma Scherazade, que imagina uma nova história em cada passagem da história que está contando. Tal é a memória épica e a musa da narração. (...) Em outras palavras, a rememoração, musa do romance, surge ao lado da memória, musa da narrativa, depois que a desagregação da poesia épica apagou a unidade de sua origem comum na reminiscência”. (pg. 211)

Não obstante estas considerações, penso que Benjamin tinha uma visão absolutamente fatalista sobre a capacidade de evolução da civilização humana. O trecho a seguir, do texto complementar “Experiência e pobreza”, apresenta uma visão da inexorabilidade da nossa história:

“Pobreza de experiência: não se deve imaginar que os homens aspirem a novas experiências. Não, eles aspiram a libertar-se de toda experiência, aspiram a um mundo em que possam ostentar tão pura e tão claramente sua pobreza externa e interna, e que algo de decente possa resultar disso. Nem sempre eles são ignorantes ou inexperientes. Muitas vezes, podemos afirmar o oposto: eles ‘devoraram’ tudo, a ‘cultura’ e os homens, e ficaram saciados e exaustos”. (pg.118)

domingo, 20 de abril de 2008

Resenha "O narrador"

BENJAMIN. W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: BENJAMIN,W. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 3.ed., 1987.

O texto “O narrador”, de Walter Benjamin, traz uma reflexão sobre o desaparecimento do narrador na história da civilização. O autor discorre sobre a importância da narrativa e traz algumas observações bastante pertinentes sobre sabedoria, informação e experiência.
Benjamin parte do trabalho do escritor Nikolai Leskov para defender a tese de que a arte de narrar histórias está em extinção. Para o autor, a guerra fez com que os combatentes ficassem mais pobres em experiência comunicável.
O autor afirma que as melhores narrativas escritas são “as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”. (p. 198). Esses narradores se dividem em dois tipos: o narrador que vem de longe (figura do marinheiro comerciante) e o narrador que vive sem sair de seu país, e conhece bem a tradição (figura do camponês sedentário). No entanto, Benjamin lembra que a extensão real do reino narrativo só pode ser compreendida se levarmos em conta a interpenetração desses dois tipos.
Ao falar sobre o narrador, seu ofício, sua ligação com o trabalho manual, o autor nos lembra a importância da sabedoria, e principalmente, nos lembra o quanto esse conceito está desaparecendo: “A arte de narra está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção.” (p. 201).
Benjamin destaca dois indícios da evolução que culminarão na morte da narrativa: o romance e a informação. O romance, diferente da narrativa, está ligado ao livro. Ele não procede da tradição oral nem a alimente. A origem do romance é o indivíduo isolado, que não recebe conselhos nem sabe dá-los. A informação, para o autor, é mais ameaçadora e provoca uma crise no próprio romance. Diferentemente da narrativa, cujo saber vinha de longe, a informação pede uma verificação imediata. Só tem valor no momento em que é nova.
Um dos pontos levantados por Benjamin que chama a atenção no texto é a relação entre a narrativa e o trabalho manual. Para Benjamin, a narrativa é ela própria uma forma artesanal de comunicação, onde o narrador “deixa sua marca” na narrativa contada.
O autor trata da alteração da percepção da morte no século XIX, quando a burguesia produziu, “com as instituições higiênicas e sociais, privadas e públicas, um efeito colateral que inconscientemente talvez tivesse sido seu objetivo principal: permitir aos homens evitarem o espetáculo da morte.” (p. 207). Essa alteração também vai interferir na extinção da narrativa, uma vez que a autoridade daquele que vai morrer e se recorda da vida, está na origem da narrativa. O autor termina o texto retomando a importância da figura do narrador: “o narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recorrer ao acervo de toda uma vida. (...) Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la interia. O narrador é o homem que poderia deixar luz tênue de sua narração consumir completamente a mecha de sua vida.”

Boa noite! Benjamin a caminho...

Boa noite!!
Espero que todos estejam ótimos!
Um excelente feriado para todos!!
Aí vai minha resenha de O narrador.
Um beijo!!!

Lucia
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BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: Magia e técnica, arte e política. São Paulo, Brasiliense. (Obras completas de Walter Benjamin, v.1)

O autor escreveu este artigo em 1936. Ele começa afirmando que:
“Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em sua atualidade viva. Ele é algo de distante, e que se distancia ainda mais. Descrever um Leskov como narrador não significa traze-lo mais perto de nós, e sim, pelo contrário, aumentar a distância que nos separa dele. Vistos de uma certa distância, os traços grandes e simples que caracterizam o narrador se destacam dele.”


Quais são as características (os traços grandes e simples que caracterizam o narrador) de Nikolai Leskov?
1. Escreveu uma série de contos lendários russos cujo personagem central é o justo.
2. Seu ideal é o homem que aceita o mundo sem se prender a ele
3. Considerava a narrativa como um ofício manual
4. Freqüentou a escola dos antigos, no sentido de que evitou dar explicações em suas narrativas, deixando o leitor livre para interpretar a história como quiser
5. É aquele cuja obra demonstra mis claramente o cronista secularizado: é difícil decidir se o pano de fundo da narrativa é sagrado ou profano
6. Segundo Gorki ele é o escritor mais profundamente enraizado no povo, e o mais inteiramente livre de influências estrangeiras
7. Possui uma afinidade profunda pelo espírito dos contos de fadas
8. “Salvos, como nos contos de fadas” são os seres a frente do cortejo humano do autor: os justos. Seus personagens são derivações da imago de sua mãe
9. O justo é o porta-voz da criatura e ao mesmo tempo sua mais alta encarnação
10. Simpatia pelos patifes e malandros
11. Tem consciência de que suas idéias baseiam-se muito mais numa concepção prática da vida do que na filosofia abstrata ou na moral elevada

Entremeando a citação destas características de Nikolai Leskov como narrador, Walter Benjamin tece comentários acerca dos seguintes tópicos:

1. A arte narrativa: A experiência da arte de narrar está em extinção porque as ações da experiência estão em baixa, o senso prático é uma das características de muitos narradores natos, a narrativa tem uma dimensão utilitária, o narrador é um homem que sabe dar conselhos, a arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção

2. O surgimento do romance: o primeiro indício da evolução que vai culminar na morte da narrativa é o surgimento do romance no início do período moderno... o que separa o romance da narrativa é que ele está essencialmente vinculado ao livro, a origem do romance é o indivíduo isolado, o romance se disvincula da tradição do conselho e da sabedoria

3. O surgimento da imprensa: “Por outro lado, verificamos que com a consolidação da burguesia – da qual a imprensa, no alto capitalismo, é um dos instrumentos mais importantes – destacou-se uma forma de comunicação que, por mais antigas que fossem suas origens, nunca havia influenciado decisivamente a forma épica. Agora ela exerce essa influência. Ela é tão estranha à narrativa como o romance, mas é mais ameaçadora e, de resto, provoca uma crise no próprio romance. Essa nova forma de comunicação é a informação.”

4. A diferença entre informação e narrativa: A informação aspira a uma verificação imediata, ela precisa ser compreensível em si e para si, ela precisa ser plausível e bem explicada, ela só tem valor no momento em que é nova. A narrativa é o saber que vem de longe, tanto geográfica como temporalmente), relatos narrativos frequentemente recorrem ao miraculoso, o episódio narrado dá liberdade para o ouvinte interpretar a história como quiser, tem amplitude e sobrevive e se desenvolve, é capaz de suscitar espanto e reflexão

5. A a mudança da percepção da morte na consciência coletiva e sua conseqüência para a arte narrativa: Pode-se observar que a idéia da morte vem perdendo sua onipresença e força de evocação. Durante o século XIX a burguesia permitiu aos homens, com suas instituições higiênicas e sociais, evitarem o espetáculo da morte. Com o confinamento da morte, o saber transmissível e com autoridade se limita.

6. O “sentido da vida” nos romances: O sentido da vida é o centro em torno do qual se movimenta o romance, o que seduz o leitor nos romances é a esperança de aquecer sua vida gelada com a morte descrita no livro.

7. Os contos de fadas: O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo o narrador de contos de fadas, que ensinou a humanidade e continua ensinando as crianças que o mais aconselhável é enfrentar o mundo mítico com astúcia e arrogância.

8. A interação da alma, do olho e da mão na arte do narrador e do artesão: A antiga coordenação da alma, do olhar e da mão é típica do artesão, e é ela que entramos sempre, onde quer que a arte de narrar seja praticada.

Resenha de Karen sobre O Narrador

BENJAMIN. W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: BENJAMIN,
W. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 3.ed., 19

“ Num dia qualquer de 1940, no lado espanhol da fronteira entre a França e a Espanha, um funcionário da alfândega, cumprindo ordens superiores, impediu a entrada de um grupo de intelectuais alemães que fugia da Gestapo, a temível corporação nazista.Um dos integrantes do grupo, homem de quarenta e oito anos de idade, que estampava no rosto sinais de profunda melancolia, mas ao mesmo tempo transmitia a impressão de um intelecto privilegiado, não resistiu à tensão psicológica e suicidou-se....O intelectual em questão era Walter Benjamin,um dos principais representantes da chamada Escola de Frankfurt”(Os Pensadores, 1983).

Além do filósofo e crítico literário Walter Benjamim, salientaram-se, entre outros, na Escola de Frankfurt, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas. Sua “Teoria Crítica” expressava a crise teórica e política do século XX refletindo sobre seus problemas com realidade nunca antes observada.

Em seu texto O Narrador- Observações sobe a obra de Nicolau Leskov, escrito entre 1928-1935, Benjamin alerta-nos para o fato de a arte de narrar estar desaparecendo devido ao fato de a faculdade de intercambiar experiências estar em ‘baixa’. Tal experiência seria a fonte a que recorre todo o narrador. Neste caso, estaríamos condenados ao fim da memória?

A partir de dois modelos, o do camponês sedentário e o do marinheiro viajante, comerciante, Benjamin traça o perfil de duas famílias originais de narradores. Depois, foram os artífices que se encarregaram de recontá-las ( ou recantá-las) ao embalo do ritmo de seus teares e outros afazeres manuais.

Quanto a Leskov(escritor russo nascido em 1831 com afinidades tanto com Tolstói quanto com Dostoiévski), graças às viagens pela firma inglesa na qual trabalhou, viajou pela Rússia enriquecendo sua experiência do mundo. Em seus contos lendários pode-se reconhecer, por exemplo, a figura do justo, homem simples que se transforma em santo com a maior naturalidade. Aliás, será com esta figura da mística judaica de aspecto humilde - o Justo- ,cuja característica marcante é o anonimato( o mundo repousa sobre sete justos,mas não sabemos quem são, nem eles próprios) que Benjamin comparará o narrador “ um artesão que tece a matéria prima da experiência." Neste sentido , iguala-se a um sábio e à figura na qual o justo se encontra consigo mesmo.

O verdadeiro narrador sabe dar conselhos tecidos com sabedorias. Porém, o surgimento do romance, no início do período moderno, foi o primeiro indício da morte da narrativa:a burguesia,o capitalismo,a imprensa e o livro. “O romance nem procede da tradição oral nem a alimenta”. Solitário, seu leitor busca, doravante, aquecer sua vida na morte descrita no livro.

Outro gênero estranho à narrativa, além do romance ,surge neste período: a informação.Se antes o saber vinha de longe e não carecia de comprovação, a informação será verificável e imediata, sem possibilidade de interpretações.Desaparecendo o narrador, desaparece também o dom de ouvir.Citando Paul Valéry, Benjamin lembra-nos que o homem moderno não cultiva o que não pode ser abreviado.Para Leskov, ao contrário da mentalidade do breve, literatura não seria uma arte,mas um artesanato, um trabalho manual.

Ao final, no texto de Walter Benjamin, mais uma consideração sobre o narrador: “afinidades singulares alma -olho- mão de uma pessoa nascida para surpreender tais afinidades em si mesmo e para as produzir ”.Este foi o caso de Leskov, cronista(liberto de explicações verificáveis) e narrador da historia.

sábado, 19 de abril de 2008

Resenha_O narrador_Elisangela

Olá queridos!

Já estou ficando repetitiva: adorei o texto! Seguem as contribuições de minha leitura solitária, parafraseando Benjamin, "devorada, de certo modo".

Bjs e ótimo feriado!
Elisangela

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BENJAMIN. W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: ______. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 3.ed., 1987. p. 197-221.

Neste estudo sobre a obra de Nikolai Leskov, Walter Benjamin, importante pensador alemão, faz um diagnóstico sobre a arte de narrar e a perda do ato de compartilhar experiências, típica do sujeito solitário, ou cuja vivência de situações traumáticas acompanhada por mudanças bruscas e velozes na rotina não permitem a assimilação, a reflexão e as práticas de narrar, ou ainda o simples ato de aconselhar, hoje visto como antiquado. Conforme Benjamin, “Aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada” (p. 200).

O texto permite recordar o distanciamento atual das gerações diante dos anciãos, antes considerados fonte de conselhos sábios e experiência vivida, típicos narradores, para atualmente, em sua maioria, serem vistos com o descaso pelo distanciamento e falta de tempo em ouvir suas narrativas, sua sapiência. Este é o tempo do agir, dos processos rápidos da fabricação alienada, no sentido de confeccionar partes do produto e desconhecer o todo produzido. Ouvir era parte do cenário - dos “tempos” - dos artesãos, que compartilhavam experiências, saberes e, em alguns casos, magia.

Para Benjamin, o surgimento do romance no início do período moderno é o primeiro indício da morte da narrativa. A leitura, antes feita em voz alta e em grupos, com a invenção da imprensa passa gradualmente a ser ato individualizado e a encontrar, além dos livros religiosos, uma diversidade de romances impressos.

Aceito, sobretudo, pela burguesia, o romance á ainda menos prejudicial que a informação, pois de acordo com Benjamin, sobretudo no alto capitalismo, esta é instrumento influente e já fornece pronta todas as explicações, pré-julgamentos e conclusões. Entretanto, ao relacionar Virilio à temática da influência da imprensa e globalização, discordo do autor quando este afirma que o “saber que vem de longe encontra hoje menos ouvintes que a informação sobre acontecimentos próximos” (p. 202). Acredito que este fato é relativo aos interesses locais das "máquinas" por trás da imprensa.

Benjamin aponta algumas importantes diferenças entre a informação e a narrativa: a primeira só tem valor em representar a novidade, já a segunda conduz à reflexão, suscita questões e respostas desenvolvidas pelo ouvinte e ainda conserva forças para depois de algum tempo se renovar e pela memória ser recontada. É difícil não recordar Machado de Assis e o desfecho de Capitu e Bentinho no romance “Dom Casmurro”, quando Benjamin afirma que “o romance, ao contrário, não pode dar um único passo além daquele limite em que, escrevendo na parte inferior da página a palavra fim, convida o leitor a refletir sobre o sentido de uma vida” (p. 213).

Neste sentido, é possível inferir que o leitor sente-se também um pouco autor do romance. Semelhante ao texto de Bethelheim, sobre a psicanálise dos contos de fadas, Benjamin alerta aos narradores para a renúncia às sutilezas psicológicas a fim de que a história seja memorizada pelo ouvinte. A performance do narrador também deve ser considerada como fator importante para a memorização e o encantamento com a história, sendo que a morte é a sanção de tudo o que o narrador pode contar.

O autor, entretanto, ressalta que o homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado, a começar pela narrativa, passando pela escrita (vale lembrar a grafia diferenciada dos jovens na Internet) e estende-se às versões condensadas de livros para adultos e crianças.

De fato, o narrador é visto na atualidade como um protagonista raro, em alguns casos, regionalista, como os repentistas nordestinos e, sobretudo, um ser digno de admiração que evoca a sabedoria e nos traz uma nostalgia de um tempo que pouco, ou nada vivemos.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Próxima aula: Estação Memória (22/04)

Oi, pessoal!

Não esqueçam: nossa próxima aula será na Estação Memória

Segue endereço:
Estação Memória - Biblioteca Álvaro Guerra
Av. Pedroso de Morais, 1919 - Alto de Pinheiros - tel.: 3031-7784
E-mail: estaçãomemoria@prefeitura.sp.gov.br
Clique aqui para ver o mapa.

Caso tenham algum problema para localizar, podem me contactar: 9853-1833 (embora não tenha o melhor senso de direção, mas tento ajudar!) .

Dica: localizamos os textos complementares da próxima aula na Biblioteca da ECA (aberta até às 21h hoje):
Texto-base: Walter Benjamin. « O narrador » IN: Magia e Técnica, Arte ePolítica.
Textos-complementares: Walter Benjamin. « Experiência e pobreza » IN: Magia e Técnica, Arte e Política.
Edmir Perrotti. Station Mémoire. Ivete Pieruccini. Estação Memória : lembrar como projeto

Bom final de semana e bom feriado,
Elisangela

Alfredo Bosi, Simone Weil e Marinetti

Oi pessoal!

Na última aula o Prof. Edmir comentou sobre os trabalhos de Alfredo Bosi, Simone Weil e Marinetti e os acrescentei à Bibliografia do Curso. Os dois primeiros são de fácil acesso pela Internet, o último é possível encontrar na Biblioteca da ECA (localização: 320^W422c):

BOSI, A. Considerações sobre o tempo e informação. Cidade do Conhecimento. São Paulo: USP, 1995. Disponível em: http://www.cidade.usp.br/arquivos/artigos/index 0401.php. Acesso em: abr. 2008.

MARINETTI, F. Manifesto Futurista. Disponivel em: http://www.dhnet.org.br/desejos/textos/futurista.htm Acesso em: abr. 2008.

WEIL, S. A racionalização. In: BOSI, E., org. A condição operária e outros estudos sobre a opressão. 2.ed. São Paulo, Paz e Terra, 1996. p. 135-154.

Abraços,
Elisangela

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Resenha sobre o texto “O Narrador” de W. Benjamin_ por Luciana


Resenha sobre o texto “O Narrador” de W. Benjamin_ por Luciana


BENJAMIN, Walter. “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. In: Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994_
resenha de Luciana Rodrigues



Em um ensaio do ano de 1936 intitulado “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, Walter Benjamin fazia uma análise de que a arte de narrar estava com seus dias contados, que a figura do narrador havia se tornando cada vez mais distante das nossas vidas e que, com o fim da narrativa, estaríamos perdemos nossa vocação de trocar experiências. Em tempos de capitalismo informacional esse diagnóstico é mais do que certeiro, não há lembranças e experiências compartilháveis, não há mais materialidade espacial nem temporal, não há tempo para assimilação, a informação, no lugar da narrativa, necessita ser sempre nova e plausível, rapidamente verificada (o que não necessariamente a torna verdadeira).

Benjamin dá pistas onde podemos observar dessa morte das experiências compartilhadas: nos jornais, nota, tanto as experiências do mundo exterior quanto do mundo ético empobreceram. Desde a guerra (trata-se da Primeira Grande Guerra, esclareça-se), aumentando com o tempo, não há narrativas que se aproximem das transmitidas de “boca em boca”. O autor vê uma lógica nisso: empobreceram-se as experiências, elas foram desmoralizadas pelos fronts, pelos governantes, pelo caos econômico e pela ausência de ética. Não há, na guerra, nada que tenha valor real para ser compartilhado entre as pessoas, e a narrativa, fruto desse contato entre histórias pessoais, perdeu a sua riqueza.

Historicamente narradores anônimos intercambiavam, oralmente, experiências variadas e isso compunha as narrativas em dois ramos fundamentais: a dos que vinham de longe e a dos que, vivendo localmente, conheciam suas tradições. Essa interpenetração dessas duas famílias, facilitada pela sistema corporativo medieval, é que permite a compreensão real do reino narrativo:

Quem viaja tem muito que contar", diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. Se quisermos concretizar esses dois grupos através dos seus representantes arcaicos, podemos dizer que um é exemplificado pelo camponês sedentário, e outro pelo marinheiro comerciante. Na realidade, esses dois estilos de vida produziram de certo modo suas respectivas famílias de narradores. Cada uma delas conservou, no decorrer dos séculos, suas características próprias (...) Se os camponeses e os marujos foram os primeiros mestres da arte de narrar, foram os artífices que a aperfeiçoaram. No sistema corporativo associava-se o saber das terras distantes, trazidos para casa pelos migrantes, com o saber do passado, recolhido pelo trabalhador sedentário. (BENJAMIN, 1994: 198_199)

Ao analisar a trajetória de Leskov, romancista russo do século XIX, como alguém que havia viajado muito e utilizado suas experiências ao narrar os personagens como homens justos, que se preocupavam e aconselhavam, Benjamin observa que “o senso prático é uma das características de muitos narradores natos” onde a natureza da verdadeira narrativa teria uma dimensão utilitária, com o narrador sabendo transmitir algum ensinamento moral:

Mas, se "dar conselhos" parece hoje algo de antiquado, é porque as experiências estão deixando de ser comunicáveis. Em conseqüência, não podemos dar conselhos nem a nós mesmos nem aos outros. Aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada. Para obter essa sugestão, é necessário primeiro saber narrar a história (sem contar que um homem só é receptivo a um conselho na medida em que verbaliza a sua situação). O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando porque a sabedoria - o lado épico da verdade - está em extinção (BENJAMIN, 1994: 200)


O Romance surgido nos primórdios da humanidade, encontrou na ascensão burguesa, e na criação da prensa, campo fértil para se desenvolver. O romance, para Benjamin, não procedeu nem alimentou a narrativa, dela se distinguindo e chegando a torná-la arcaica:

O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes. O romancista segrega-se. A origem do romance é o indivíduo isolado, que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações mais importantes e que não recebe conselhos nem sabe dá-los. Escrever um romance significa, na descrição de uma vida humana, levar o incomensurável a seus últimos limites. (BENJAMIN, 1994: 201)


Na consolidação da burguesia, entretanto, o próprio romance deu sinais de desgaste e entrou em crise quando uma forma de comunicação, que sempre existiu, mas nunca ganhou tamanho destaque, cresceu de forma imensurável: a informação.

Mas a informação aspira a uma verificação imediata. Antes de mais nada, ela precisa ser compreensível "em si e para si". Muitas vezes não é mais exata que os relatos antigos. Porém, enquanto esses relatos recorriam freqüentemente ao miraculoso, é indispensável que a informação seja plausível. Nisso ela é incompatível com o espírito da narrativa. Se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio.
Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação. Metade da arte narrativa está em evitar explicações
(BENJAMIN, 1994: 202)

A narrativa não precisa da novidade, é entendida a qualquer tempo e sem quaisquer explicações extras, todavia a informação não pode prescindir do novo. Seu tempo é outro. A narrativa pode esperar décadas, séculos, e achar solo fértil para florescer, por isso Benjamin a compara às sementes de trigo encontradas nas câmaras das pirâmides, que os milhares de anos de estocagem não tiraram o potencial de germinação.
A narrativa também se liberta das nuances psicológicas, onde o ouvinte a assimila ao somá-la às suas próprias experiências e logo acabará por recontá-la.
A narrativa pede, também, um outro estado do espírito do ouvinte, o lento tecer, fiar, um relaxamento, uma distensão, como diz Benjamin, para ser mais profundamente assimilada (e um momento de ócio como diria Bertrand Russell), ela é uma forma artesanal de comunicação.

Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do trabalho se apodera dele, ele escuta as histórias de tal maneira que adquire espontaneamente o dom de narrá-las. Assim se teceu a rede em que está guardado o dom narrativo. E assim essa rede se desfaz hoje por todos os lados, depois de ter sido tecida, há milênios, em torno das mais antigas formas de trabalho manual.
(BENJAMIN, 1994: 205)

A memória é essencial à narrativa, tanto para quem conta como para quem a ouve, e que a irá recontar. Nas palavras do autor: “Para o ouvinte imparcial, o importante é assegurar a possibilidade da reprodução. A memória é a mais épica de todas as faculdades. Somente uma memória abrangente permite à poesia épica apropriar-se do curso das coisas, por um lado, e resignar-se, por outro lado, com o desaparecimento dessas coisas, com o poder - da morte.” É a memória que tece a rede das histórias, que vão ser contadas por “artesãos”:

Assim definido, o narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recorrer ao acervo de toda uma vida (uma vida que não inclui apenas a própria experiência, mas em grande parte a experiência alheia. O narrador assimila à sua substância mais íntima aquilo que sabe por ouvir dizer). Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira. O narrador é o homem que poderia deixar a luz tênue de sua narração consumir completamente a mecha de sua vida. Daí a atmosfera incomparável que circunda o narrador, em Leskov como em Hauff, em Poe como em Stenvenson. O narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo (BENJAMIN, 1994: 221)


segunda-feira, 14 de abril de 2008

O conhecimento inútil - uma não resenha

Caros colegas e professores: como não fiz a minha resenha e não poderei estar na aula de amanhã, resolvi deixar aqui uma satisfação sobre minhas ausências.

Quanto às leituras: procurei, procurei, procurei, o livro "Elogio ao ócio", em todos os sêbos e livrarias que encontrei pela frente (e não foram poucos), mas não o encontrei, uma vez que ele está esgotado e fora de catálogo. Não satisfeita, fui atraz do texto "O conhecimento inútil" na internet. Mais uma vez debalde, embora tenha encontrado - e lido com muito prazer - o primeiro capítulo do livro, intitulado, vejam só, "Elogio ao ócio". Terá surgido daí o título da edição brasileira?

Diferente sorte tive com "A luta pelo significado", uma vez que comprei o livro "Psicanálise dos contos de fadas". O prazer que encontrei na leitura de tão excepcional texto, localizado logo na introdução do livro, me "obrigou" à leitura do restante do livro, trabalho em andamento que de certa forma compensou a culpa que senti por não ter realizado o trabalho solicitado.

Quanto à minha não-presença física: entre terça e sexta-feira estarei em Curitiba e Paranaguá, participando de dois eventos que pretendem envolver escola e comunidade na erradicação do trabalho infantil e da violência sexual na juventude nestas duas cidades.

Queria muito estar com vocês, pois estou amando as leituras propostas e as nossas aulas. Fora o filme que vou perder... Mas na outra terça estarei de volta e vocês me contam.

Um grande beijo a todos e boa aula!
Fernanda

domingo, 13 de abril de 2008

Resenha "O conhecimento inútil"

RUSSELL, B. O conhecimento inútil. IN: _____. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P. 36-46.

Escrito em 1935, o livro “O elogio ao ócio” é uma reunião de crônicas publicadas em jornais da Inglaterra e dos Estados Unidos. O segundo capítulo – “O conhecimento inútil” – fala das relações entre o homem e o conhecimento e, apesar de escrito na primeira metade do século XX, é um texto extremamente atual, que poderia se referir aos tempos atuais.

Russel traça um pequeno panorama histórico da relação entre homem e conhecimento, focalizando principalmente o período renascentista, quando o homem se revolta contra a “concepção utilitária do conhecimento” e lembrando que para o homem renascentista, instruir-se fazia parte da alegria de viver. O autor mostra que a Revolução Francesa acelerou a mudança da concepção de conhecimento e que “as pessoas passaram a questionar o valor do chamado conhecimento ‘inútil’ com um vigor crescente, passando a acreditar mais e mais que o único conhecimento digno de mérito é aquele que se pode aplicar a algum setor da vida econômica da coletividade”.(p. 38)

Russel afirma que nos países com sistemas educacionais tradicionais a visão utilitária o conhecimento não prevalece totalmente, mas que isso não significa que não haja um movimento para a extinção da velha tradição.

O autor mostra que o conhecimento “útil” é essencial no mundo moderno, que uma modernização na educação tradicional é sempre necessário. Entretanto essa modernização não pode vir desassociada da cultura, pois “quando a atividade consciente dos indivíduos fica totalmente concentrada num único propósito, o resultado, na maioria dos casos, é uma perda de equilíbrio seguida de alguma espécie de distúrbio nervoso.” (p. 41)

Utilizando alguns exemplos bastante interessantes, Russel termina o capítulo falando sobre a importância do incentivo à atitude mental contemplativa. Para o autor “os méritos mais importantes da contemplação estão relacionados aos grandes males da vida e à marcha cega das nações para o desnecessário desastre”. Não basta, segundo o autor, “de tal ou qual informação específica, mas do conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo”. Impossível não relacionar tal posição com Morin.

Resenha de " O conhecimento "inútil"" - Karen

RUSSELL, B. O conhecimento inútil. IN: _____. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P. 36-46.

Em seu livro O Elogio ao Ócio(1935),Bertrand Russell, no capítulo segundo – O Conhecimento Inútil – trata de explicar ao leitor as diferentes relações entre o homem , o conhecimento e seu sistema educacional,no período compreendido entre a Renascença e o mundo moderno ,especialmente no entre guerras, ao qual pertenceu.

Na Renascença ,a instrução “ fazia parte da alegria de viver, tanto quanto beber ou amar”.Lembra-nos ,o autor ,que a principal causa do Renascimento “ foi o prazer mental,a restauração de uma certa riqueza e liberdade na arte e na especulação que haviam sido perdidas na época em que a ignorância e a superstição punham antolhos na imaginação”, referindo-se ao período medieval imediatamente anterior.

Apesar de ter havido diferenciação entre estudos mais elevados (filosofia, geometria -até hoje o professor de matemática alega que precisa de mais aulas) , astronomia)que outros,o contato com o conhecimento teórico cientifico era muito valorizado.Porém, a lenta “mudança em direção a uma concepção mais ampla e prática do conhecimento, ocorrida ao longo do sec. XVIII, foi subitamente acelerada pela Revolução Francesa e pelo crescimento do maquinismo.

Em países como Inglaterra e França ,por possuírem sistemas educacionais tradicionais, a visão utilitária do conhecimento ainda não é predominante, mas a velha tradição passa a ser condenada, ao mesmo tempo em que já está extinta em países mais novos como Rússia e EUA. Segundo o autor: “O conhecimento vai deixando de ser visto como um bem em si mesmo ou como o meio de criar-se uma perspectiva de vida humana e abrangente e se transforma em mero ingrediente da aptidão técnica...Os estabelecimentos de ensino devem provar ao Estado que servem aos propósitos úteis de prover qualificação técnica e infundir lealdade”.

Russell reconhece que foi graças ao conhecimento ‘útil’ que se construiu o mundo moderno. É ainda favorável que a educação continue promovendo este tipo de conhecimento .Entretanto, o autor acredita que a educação deva ter outros propósitos além da utilidade imediata, ou seja, defende um meio termo entre utilidade e cultura. Esta última, através da educação, ampliaria gamas de interesses inteligentes não relacionados ao trabalho.

Indo além, Russell relaciona a natureza humana não-treinada (culturalmente) a um forte componente de crueldade que se apresentaria de formas maiores ou menores(maledicências , touradas, caçadas, extermínios ,genocídios ,por exemplo).Isso porque, na busca de admiração e poder, pessoas ignorantes usariam modos brutais para obtê-los . Segundo sua linha de raciocínio, a cultura proporcionaria às pessoas formas menos nocivas de poder e meios mais dignos de se fazerem admiradas.

O autor encerra o capítulo fazendo uma crítica ao momento de cegueira no qual está vivendo, quando convive com “grupos egocêntricos e radicais , incapazes de ver a vida humana com totalidade, e muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro sequer em suas posições”.

Se Bertrand Russell tivesse a oportunidade de encontrar Edgar Morin teria lhe dito: " Eu li o seu livro 'Os sete saberes necessários à educação do futuro'... amanhã!"

sábado, 12 de abril de 2008

Resenha do capítulo O conhecimento inútil, de Bertrand Russell

Boa tarde!
Aí vai a resenha d'O conhecimento inútil + um breve comentário acerca do A luta pelo significado.
Um excelente final de semana!!
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RUSSELL, Bertrand. O conhecimento inútil. IN: -------. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro, Sextante, 2002. p.36-46.

Bertrand Russell publicou seu livro In praise of idleness em 1935. A editora Sextante traduziu-o publicou-o como O elogio do ócio em 2002. O intervalo entre as edições é de 67 anos. Uma vida, eu diria. É impressionante como certos fenômenos são tão duradouros e o quanto certas obras, apesar de escritas há tanto tempo, permanecem tão relevantes.

Neste capítulo (O conhecimento inútil), o autor traça um rápido histórico da visão do valor do conhecimento, da Renascença até o século XX (mais especificamente o período entre-guerras).
Segundo ele, na Renascença:


"a instrução fazia parte da alegria de viver , tanto quanto beber ou amar (...) A principal causa da Renascença foi o prazer mental, a restauração de uma certa riqueza e liberdade na arte e na especulação..."
A seguir ele nos lembra de que a partir do século XVIII até o momento em que ele escreveu o livro (eu me arriscaria a dizer que até agora):
"Em toda parte o conhecimento vai deixando de ser visto como um bem em si mesmo ou como um meio de criar-se uma perspectiva de vida humana abrangente e se transforma em mero ingrediente da aptidão técnica (...) Não temos, portanto, tempo mental para adquirir outros conhecimentos além daqueles que hão de nos ajudar na luta pelas coisas que consideramos importantes."
Claro que o autor também defende o conhecimento "útil", afinal, foi isso que trouxe o progresso, a melhoria da saúde, etc. Em suma , foi o conhecimento "útil" que moldou a sociedade atual, no que ela tem de bom e de ruim. O que ele defende é o equilíbrio entre o conhecimento "útil" e "inútil" (aquele que não contribui para a eficiência técnica), afinal, utilidade e cultura, quando concebidas de forma abrangente, são compatíveis.
O autor afirma que o conhecimento "inútil" possui diversas formas de utilidade indireta. Ele crê que muitos aspectos negativos do mundo atual seriam minimizados se a obtenção de conhecimento "inútil" fosse mais incentivada.
Vejamos:
ASPECTO NEGATIVO DA MODERNIDADE // BENEFÍCIO DO CONHECIMENTO INÚTIL
1. Trabalho exagerado que leva ao desequilíbrio // Lazer que seria antídoto deste exagero
e distúrbios nervosos
2. Lazer passivo // Lazer como prazer mental
3. Egoísmo / crueldade // Ocupação de temas amplos e impessoais e busca de formas menos nocivas e se buscar poder e fama
4. Ativismo sem discernimento // Atitude mental contemplativa
5. Vida confinada ao estritamente pessoal // Substituição das religiões dogmáticas na busca de sentido da vida
Neste último tópico, o autor afirma:
"O que se necessita é de um conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo: arte e história, familiaridade com a vida das pessoas heróicas, além de um certo entendimento da posição estranhamente acidental e efêmera do homem no cosmos - tudo isso permeado do sentimento de orgulho daquilo que é distintivo do ser humano: o poder de ver e conhecer, de sentir com magnanimidade e de pensar com entendimento"
Esta afirmação é muito próxima da afirmação de Bruno Bettelheim(1), quando este diz:
"Se esperamos viver não só cada momento, mas ter uma verdadeira consciência de nossa existência, nossa maior necessidade e mais difícil realização será encontrar um significado em nossas vidas. (...) A sabedoria é construída por pequenos passos a partir do começo mais irracional. Apenas na idade adulta podemos obter uma compreensão inteligente do significado da própria existência neste mundo a partir da própria experiência nele vivida (...) Hoje, como no passado, a tarefa mais importante e também a mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida"
Lendo estes dois textos, corroboramos o que nosso ritmo de vida já nos afirma - é preciso parar, ter lazer, adquirir um conhecimento além daquele que nos faz produtivos, até porque sem o ócio, paramos mais cedo, vítimas de doenças psicossomáticas e sociais.
Particularmente, fiquei um pouco incomodada quando Russell diz que é a falta de cultura que faz as pessoas se tornarem mais propensas a atos de auto-afirmação violentas, ainda que eu pessoalmente tenha experimentado este fenômeno, como se os líderes de linchamentos e os valentões da escola não tivessem cultura. Todos têm cultura, na medida que todos vivem em sociedade e a cultura é um fenômeno social. Penso que o autor quis dizer cultura nesta noção renascentista de cultivo intelectual.
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1 - BETTELHEIM, Bruno. A luta pelo significado. IN: ------. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980. p.11-28. (Literatura e teoria literária, 24)

Resenhas_O conhecimento "inútil"_Elisangela

Olá pessoal!

Adorei este texto!!!

Bjs e bom final de semana,
Elisangela
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RUSSELL, B. O conhecimento inútil. IN: _____. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P. 36-46.

Russell nos brinda com esta irônica reflexão sobre a incessante busca do homem por dinheiro, desvencilhando-se cada vez mais do que realmente lhe proporciona prazer: O lazer. O texto inicia com uma retomada à Alta Idade Média, quando Francis Bacon afirmou que “conhecimento é poder”, neste caso, referia-se ao conhecimento científico. Para a época, um homem instruído dominava os conhecimentos da astrologia, farmacologia e alquimia. Hoje não só o domínio da ciência é importante ao homem, mas também, ou talvez até com maior grau de relevância, o domínio dos mercados financeiros, com sua terminologia própria e volatilidade peculiar.
Conforme o autor, a Renascença, originária do prazer mental, da restauração da riqueza e liberdade na arte, trouxe consigo a revolta contra a concepção utilitária do conhecimento. Porém, com os ciclos históricos de transformações, na Revolução Francesa e com o crescimento do maquinismo houve uma mudança gradual em direção a uma concepção mais ampla e prática do conhecimento. Desde este momento, “as pessoas passaram a questionar o valor do chamado conhecimento "inútil” com vigor crescente, passando a acreditar mais e mais que o único conhecimento digno de mérito é aquele que se pode aplicar a algum setor da vida econômica e da coletividade” (p. 38).
De fato, desde que o homem deixou de viver para trabalhar, mas trabalha para viver a aquisição de conhecimentos e a busca por aprendizado passou a ser estritamente utilitária, pois como afirma a máxima “tempo é dinheiro” e, de acordo com a atual lógica de interesses, não é possível perder tempo com algo que não proporcione lucro financeiro.
O autor cita que em toda parte o conhecimento transforma-se em ingrediente da aptidão técnica e mesmo as palavras contempladas no vocabulário lecionado em muitos estabelecimentos de ensino tem o propósito exclusivo de transmitir informações práticas – esqueceram da literatura, da filosofia.
Russell não defende o currículo tradicional na educação, mas afirma que “utilidade e cultura, quando concebidas de maneira abrangente, mostram-se menos incompatíveis (...), pois o conhecimento que não contribui para a eficiência técnica possui diversas formas de utilidade indireta” (p. 39). Em muitos pontos do texto, como neste, é possível recordar Morin, sobretudo quando crítica a homogeneização do conhecimento tornando cada vez mais difícil a contextualização dos saberes.
Assim como Morin ao tratar da questão do lazer em sua entrevista ao programa Roda Viva, Russell acredita que este período é uma necessidade de todos, adultos e crianças. O lazer é uma possibilidade de cultura, porém faltam incentivos e possibilidades para desenvolver tal cultura de modo que “as pessoas se ocupem, ao menos em parte a temas amplos e impessoais, e não apenas de seus interesses imediatos” (p. 41), e nem tão pouco que as populações urbanas se ocupem apenas com as diversões coletivas e passivas. O autor afirma ainda que “lazer de sobra só é tedioso para quem não dispõe de uma boa quantidade de interesses e atividades inteligentes” (p. 42).
Russell admite que pessoas instruídas possam ser cruéis, entretanto, o autor faz a inevitável relação da ignorância e os atos de brutalidade praticados (na grande maioria das vezes), por pessoas pouco instruídas que cobiçam o poder e a admiração, mas, que só conseguem obtê-los, de um modo geral, pela força bruta, ou ao unir-se a grupos egocêntricos e radicais “muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro sequer em suas posições” (p. 46).
Assim, para o autor a vantagem mais importante do conhecimento “inútil” é o incentivo a atitude mental contemplativa, pois é a salvaguarda contra a imprudência e preserva a serenidade. Novamente Morin é recordado ao eixo destinado a ensinar a compreensão, pois conforme Russell, “é da combinação do discernimento amplo com a emoção impessoal que brota a sabedoria” (p. 46). Novamente o texto recorda Morin sobre os saberes globais, quando Russell afirma que a sociedade “necessita não de tal ou qual informação específica, mas do conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo”. Deste modo, todos poderão dedicar-se às atividades agradáveis, usando o tempo livre para se divertir em que se inclui ampliar o conhecimento e capacidade de reflexão.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Conhecimento Inútil RUSSELL, Bertrand_ resenha de Luciana rodrigues

O Conhecimento Inútil_resenha

Resenha do texto “O Conhecimento Inútil” da obra RUSSELL, Bertrand. O Elogio ao Óócio. 4. ed. Trad. Pedro Jorgensen Júnior. Rio de Janeiro: Sextante, 2002, por Luciana Rodrigues

No ano de 1950 o ensaísta, historiador, filósofo e matemático Bertrand Russell recebeu o Prêmio Nobel da Paz, como um grande opositor às guerras e defensor das liberdades. Durante a leitura dos quinze ensaios escritos para jornais da época, reunidos no livro ELOGIO AO ÓCIO, de 1935, é possível entender o porquê, apesar de se tratar de visão bastante dura do status quo, principalmente do capitalismo com ética calvinista, que propagandeia o trabalho como o fim, e não um meio, de toda a aventura humana.

Para Russel o trabalho não deve ser o objetivo de vida, o mundo deve dedicar algumas horas do seu dia ao ócio, para as atividades prazerosas, para a reflexão, ampliação dos conhecimentos e a contemplação. E a humanidade, defende, já tem mecanismos para permitir que isso aconteça.

Se nos anos de 1930 a análise de que o uso tecnológico deveria diminuir a jornada de trabalho (sugere 4 horas) e por fim ao desemprego, permitindo que todos tenham tempo livre já parecia lógica, hoje ela parece incontestável. Entretanto esse “tempo livre” não foi, ou é, o mote de nenhum sistema econômico que existe ou que já existiu, pois o ócio é permitido apenas para os donos dos meios de produção, obrigando aos trabalhadores a dedicarem quase todas as horas de suas vidas a atividades laborais que visam não seus prazeres, mas tão somente as suas subsistências e que retro alimentam sua exploração. O ócio total de uns é que não permite o lazer de outros:

A moderna técnica trouxe consigo a possibilidade de que o lazer, dentro de certos limites, deixe de ser uma prerrogativa de minorias privilegiadas e se torne um direito a ser distribuído de maneira equânime por toda a coletividade. A moral do trabalho é uma moral de escravos, e o mundo moderno não precisa de escravos (RUSSELL, 2002: 27).

Dentre os artigos mais empolgantes está O Conhecimento Inútil. Nele Bertrand Russell descreve sobre como o conhecimento é tratado hodiernamente, sendo considerado socialmente “útil” somente o que proporciona ao seu detentor o uso de poder ou vantagens econômicas. Para se contrapor a essa visão utilitária do conhecimento cita exemplos na história, como a Renascença, onde igualmente valorizados eram os prazeres de festejar, de pesquisar e da arte, em momentos, esclareça-se, em que o ócio não era visto como algo pernicioso. No mundo moderno a reflexão que leva a uma “atitude mental contemplativa” estaria descartada, bem como qualquer tipo de conhecimento que não seja “prático” do ponto de vista de uma ação, impedindo que as coisas se tornem mais agradáveis, por mais desagradáveis que possam ser, negando o prazer:


O mundo tem revelado uma exagerada tendência para a ação, não apenas uma ação sem prévia e adequada reflexão, mas também uma ação em momentos em que a sabedoria teria aconselhado a inação. Essa tendência se manifesta de muitas formas, algumas bem curiosas (RUSSELL, 2002: 44).

Algumas dessas “formas curiosas” seriam a do abandono, por parte das pessoas, de atitudes reflexivas em troca de atos de brutalidade, sem qualquer racionalidade, para obterem poder e admiração.

O homem, ao laborar de forma exacerbada, perdeu muito de sua capacidade criativa, já que o ócio é fundamental para a contemplação e desenvolvimento de saberes, como historicamente se provou, por exemplo, na literatura e na filosofia. Sim, dentre os conhecimentos considerados “inúteis” estaria a filosofia, já que essa não traz ações “práticos e úteis” como os mencionados acima. Russell manifesta sua oposição a isso, defendendo que a filosofia, como ação cotidiana, pode melhorar o mundo, propondo soluções aos problemas da humanidade, apesar de não definitivas nem exatas, eis que a busca constante pelo conhecimento, derivada das incertezas, é que engrandece as mentes.

As próprias universidades como espaços de saber, vêm se perdendo, dentro das posturas utilitárias de conhecimento e se afastando da sociedade, A exigência de um tipo específico de produção de modo sistemático nem sempre condiz com o seu papel, como bem mostrava Russel:

Hoje, espera-se que as universidades produzam de modo mais sistemático aquilo que a classe ociosa produzia apenas acidentalmente, como mero subproduto. Trata-se de um grande avanço, mas que tem seus inconvenientes. A vida universitária é tão diferente do mundo exterior que, no meio acadêmico, as pessoas tendem a ficar alheias às preocupações e problemas dos homens e mulheres comuns. Além disso, elas utilizam um jargão de tal forma especializado que em geral as opiniões que expressam deixam de exercer a influência que deveriam ter sobre o público em geral. Outra desvantagem é que os estudos universitários são estruturados de tal forma que alguém que conceba uma linha original de pesquisa freqüentemente se sente desencorajado. As instituições acadêmicas, por mais úteis que sejam, não são os guardiões adequados dos interesses da civilização num mundo em que todos os que vivem fora de seus limites estão ocupados demais para dar atenção a atividades não utilitárias (RUSSELL, 2002: 44)

A grande contribuição de Russell se soma a de outros livros e de outros autores que “ousaram” questionar dogmas da nossa sociedade. Não é o trabalho bruto que liberta a humanidade, mas a sua capacidade criativa de se sonhar diferente e de buscar soluções emancipatórias. Entretanto Russell, na sua defesa de um socialismo diferente do marxista, parece um pouco ingênuo já que não vai muito a fundo no que concerne ao fato de que a exploração ao trabalho é um dos alicerces da dominação capitalista e que não é o mero exercício da persuasão que vai mudar essa história.