PERROTTI, E.; PIERUCCINI, I. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. [S. l. : s. n.], [200-].
Entre textos e encontros,o caminho percorrido por nosso grupo até aqui chegou a um novo ponto de partida com a recente leitura do artigo supracitado escrito por nossos professores - Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini.
Para tanto, foi preciso entender conceitos como cibercultura, protagonismo cultural, apropriação simbólica do conhecimento, conhecimento ‘inútil’, memória,atos de significação e outros.Todos estes conceitos são importantes para a compreensão deste artigo, além de outros conceitos que avançam a partir do que já havíamos tomado como base.
Por exemplo, quanto à questão identitária , recorrente em momentos de grande transformações, referindo-se ao atual mal-estar na civilização da cibercultura que “vem sendo, antes ,o surgimento de um modo de pensar, sentir, agir até então desconhecidos, produzindo mutações que afetam nossa vida e diante das quais não ficamos incólumes”.
Neste sentido,a Era da Informação e sua “veloz fuga para frente obliteram questões de fundo complexos e difíceis , porém urgentes e necessárias”. Diante disto,indagam os autores: o que significa hoje a memória? Conhecimentos transformados , dados armazenados e desconectados entre si, uma outra face do esquecimento e perda da memória ,não pela falta, mas pelo excesso ...
Na contemporaneidade, quando o virtual convive como real( embaralhando fronteiras e percepções que alteram relações com o o saber e o conhecimento) e devido à explosão informacional, informar e informar-se devem envolver novos saberes e fazeres ,além de diferentes ferramentas para tal processo. A questão é: que informações buscar, de quais nos apropriar e quais refutar?
Para os autores,a aproximação entre Informação e Educação seria uma boa solução para a crise de formas tradicionais de informar e ensinar.Neste caso,não somente habilidades e competências seriam desenvolvidas , mas fundamentalmente desenvolver-se-iam atividades face à informação e cultura.Salientando a diferença entre assimilação(passiva) e apropriação cultural(ativa) ,os autores apontam ser esta diferença a causa da crise em instituições como a escola e a biblioteca na segunda metade do século passado.
Preocupados com questões como a apropriação simbólica e protagonismo social ,os pesquisadores formularam, nos anos 80, um projeto de pesquisa levado a efeito no Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP. Este tinha por objetivo estudar o sentido da experiência em processos culturais envolvendo crianças e jovens ( posteriormente ampliado com acervo de depoimentos de idosos).
Destacou-se ,no projeto, a questão da mediação cultural como processo de significação.A partir disto ,o Arquivo Cultural evoluiu para a criação da Estação Memória: tornava-se necessário criar ferramentas capazes de promover a compreensão dos atos de significação formados, não como epifanias geradas à margem do tempo e do espaço, mas, ao contrário, como fenômenos de ordem subjetiva, situados em referência a quadros históricos concretos que ganham conformidade”. Para ao autores,o estudo dos dispositivos(bibliotecas, centros culturais,núcleos de informação e memória) como categoria constitutiva dos atos simbólicos representava um salto importante, pois implicava em visão não-fragmentada e não idealista das questões envolvendo nossas transações com os significados.
Voltando ao Iluminismo, recordam o papel da Enciclopédia , não somente organizadora da tradição, mas com o papel de difusor cultural. “ Difusão Cultural, referência que se estenderá até os dias que correm, em que pesem evidências de seu esgotamento face às novas circunstâncias históricas que colocaram a modernidade em crise”.
Por meio de uma pesquisa colaborativa e orientados por princípios da interdisciplinaridade ,os pesquisadores incorporaram como categoria metodológica os saberes e os fazeres plurais.Entre outros , no final dos anos 90, o projeto Biblioteca Interativa e suas cooperações permitiram formar um corpo de concepções e procedimentos que ultrapassaram simples aspectos estratégicos de ação cooperativa para adquirir novo estatuto científico-metodológico de pesquisa colaborativa.Este projeto promoveu novas atitudes e interesses pelo conhecimento , alterou processos de ensino – aprendizagem e possibilitou gestos culturais significativos.Para melhor comunicação entre as unidades do projeto e combate ao confinamento cultural ,foi desenvolvida uma rede cooperativa entre a Secretaria Municipal de Educação de SP, a equipe escolar, a USP e a Biblioteca Interativa do Mange,e Salas de Leitura das escolas da região do Butantã.Curiosamente, observaram que “as relações entre dispositivos e apropriação simbólica não eram apenas de ordem conceitual ou metodológica, mas sobretudo pelas políticas administrativas,implicando conflitos que necessitavam ser incorporados ao projeto como categoria epistemológica. Estavam em causa, portanto, relações entre ciência e sociedade que não poderiam ficar alheias à pesquisa cooperativa”, referindo-se a problemas com a coordenadoria das Salas de Leitura.
Posteriormente, a Rede Escolar de Bibliotecas Interativas(REBI)deixou claro a necessidade de instâncias e protocolos de mediação. Sua problemática conceitual, metodológica e operacional apontavam que a separação historica entre os campos informacional e educacional precisavam ser repensadas.
Percebeu-se com as redes de informação que estas também deveriam ser entendidas como redes de significação, unindo ,num mesmo processo, informar e informar-se. Os autores passaram ,a partir daí ,a realizar projetos doravante nomeados como Redes de Infoeducação.Esta terminologia surgiu como alternativa à ordem social fragmentada e caótica e e deixava claro a’ reticularidade’ e dinâmicas de seus trabalhos,além da compreensão da existência de vínculos mútuos e inseparáveis entre meios e mediações.
Apresento aqui o conceito de apropriação cultural de Serfaty-Garzon :O objetivo deste tipo de possessão(apropriação simbólica) é precisamente tornar própria alguma coisa,isto é, de adaptá-la a si e, assim ,transformar esta coisa em suporte de expressão de si”.Enquanto a simples assimilação nivela e repete o igual, a apropriação permite criar o diferente. Da apropriação cultural nasce o protagonismo cultural: apropriar-se de informação e cultura é ato próprio de protagonistas, categoria que, no âmbito da Educação e da Cultura, distingue-se das de usuários e de consumidores culturais.
Quanto aos meios, o caminho promissor no conceito de dispositivo seria situá-los “numa posição não meramente funcional ou instrumental mas sobretudo discursiva ressaltando seu papel nos atos de significação dada sua natureza de signo”. Logo, os dispositivos não apenas funcionam, eles significam.
Correlato ao conceito de dispositivo (midiatização) está o de mediação cultural, central para o trabalho dos autores e que se refere a um conjunto de elementos de diferentes ordens e que atuam nos processos de significação. Ela também produz sentidos e não é apenas intermediadora anônima de signos. " Neste sentido, os dispositivos informacionais são dispositivos de mediação e estão carregados de conceitos e significados, são processos simbólicos, discursos..."
Fazendo as devidas distinções entre os diferentes tipos de dispositivos, a saber, os de Apropriação Cultural(DAC’S), os de Conservação Cultural e os de Difusão Cultural foi possível também formular categoria genérica que incluísse os vários tipos de DAC’S:Estações Culturais e Estações de Conhecimento(apropriação simbólica e protagonismo cultural).
Seu objetivo específico seria o desenvolvimento de aprendizagens informacionais em programas orgânicos realizados de forma sistemática e permanente. Estas Estações foram quase todas instaladas em ambientes de educação formal. Porém,podem igualmente desenvolver-se em ambiente não formal e não educacional. Especificamente, tais dispositivos pretendem infoeducar,pois todos, em todos os ambientes ,precisamos aprender a nos informar.
Para Perrotti e Pieruccini ,falta ao Estado brasileiro uma política efetiva de Educação e Cultura.A difusão de livros,por exemplo, não basta, pois seria desvincular as aprendizagens informacionais de conteúdos significativo: desmotivador.Os autores afirmam que novos saberes e novos fazeres entram em cena na cultura de nosso tempo e demandam, pois ,novos paradigmas e modos de atuar. Aprender a informa-se é, em decorrência, ação e reflexão sobre os aspectos imateriais e materiais da informação, é ação sobre os significados, os saberes e seus dispositivos. Na realidade, aprender em tais circunstâncias contempla obrigatoriamente aprender a aprender,apropriação dos conteúdos culturais, bem como das matérias e processos que os viabilizam, eles próprios signos, discursos.
“Destacando os sujeitos como protagonistas e de analistas conscientes das artimanhas do conhecimento, este saberá tanto operar quanto operar reflexivamente nos mares caóticos e revoltos de informação na contemporaneidade."
O Infoeducador é um novo profissional da informação ligado a demandas culturais próprias da atualidade, situado na interface dos profissionais da Informação e da Educação. É, antes de tudo, um profissional de síntese resultante de novos modos de ser, compreender, se relacionar e atuar com o conhecimento e a cultura. Será um gestor de recursos e mediador de processos de aprendizagem informacional, tendo como objetivo a apropriação simbólica formando protagonistas culturais, realizando, desta forma, o objetivo da Infoeducação.
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