sábado, 3 de maio de 2008

Resenha: Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade_Elisangela

Olá pessoal!

Segue a resenha.
Bom restinho de feriadão para
tod@s!

Bjs,
Elisangela
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PERROTTI, E.; PIERUCCINI, I. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. [S. l. : s. n.], [200-].

O artigo relata os trabalhos (saberes e fazeres) do grupo coordenado pelo professor Edmir Perrotti, da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo e concentra-se em dois objetivos: afirmar a necessidade de desenvolvimento de uma área de estudos com foco nas relações entre Informação e Educação e lançar os fundamentos científicos da Infoeducação e seus conceitos fundamentais, cuja contribuição científica original e reconhecida internacionalmente tem origem no trabalho destes pesquisadores brasileiros.
Partindo do princípio de que nossa humanização constitui-se com e por meio dos signos e que na história humana a questão de afirmação da identidade é recorrente em momentos de grandes transformações, são lançadas diversas questões relacionadas à cultura, ao conhecimento e às ciências humanas sobretudo no contexto atual em que termos como massificação, robotização, cibercultura, entre outros, são constantemente utilizados.
Na verdade, atualmente, independente do desenvolvimento tecnológico, histórico e cultural tanto informar, quanto informar-se “são atividades cada vez mais complexas e especializadas, envolvendo dispositivos, saberes e fazeres que, por suas características e condições, necessitam ser, eles próprios, continuamente desenvolvidos e apropriados, cultivados e redimensionados, como condição de sobrevivência e participação no universo do conhecimento e da cultura” (p. 4).
Ressalta-se ainda que as novas possibilidades de desenvolvimento, disseminação e recepção dos signos proporciona um quadro em que para nossa perplexidade a “falta convive com o excesso, o fortuito com o permanente, o virtual com o real, embaralhando fronteiras e percepções que alteram irremissivelmente relações com o conhecimento e o saber” (p. 4).
O artigo alerta a necessidade de construção de ferramentas e referenciais para a apropriação dos bens simbólicos, já que este é um ato culturalmente construído e por muito tempo a preocupação central dos campos da Informação e da Educação centrava-se na eficácia da transmissão do saber. Entretanto, após a segunda metade do século passado, diante da “reprofissionalização” do trabalho cada vez mais competitivo e exigente à formação de sujeitos o foco mudou para a problemática das aprendizagens informacionais, ainda que cada vez mais fragmentada e customizada às necessidades do mercado.
Ao observar a participação cultural na sociedade brasileira a partir dos anos 70, os coordenadores do Núcleo de Infoeducação centram suas preocupações na questão da apropriação simbólica como objeto de estudo, principalmente nos ambientes escolares, diante da orientação de estudo ao protagonismo cultural frente à diversidade e pluralidade das desigualdades, ou poderíamos dizer dos mundos e o caráter utilitário dos conteúdos curriculares.
Neste sentido, sobretudo em situações que envolvem a Escola, ou a Biblioteca, os sujeitos eram – e ainda são – vistos e chamados por usuários, clientes, ou consumidores de informações, cuja ação restringe-se à passividade e pouco, ou nada, remete à negociação, à interação e criação de produtos culturais, ideais remetidos à ação do protagonista cultural, terminologia adotada neste novo contexto.
Do mesmo modo, rompendo com os ideais conservacionistas e difusionistas do passado é adotado o paradigma da apropriação cultural como referência de trabalho, pois “conservação e difusão são categorias-meio, instrumentais, e não categorias-fim nos processos culturais” (p. 11) onde os protagonistas recorrem para se alimentar.
Preocupados com as relações entre experiência, cultura e educação, no final dos anos 80, o grupo coordenado pelo professor Edmir Perrotti elabora e executa o projeto "Memórias do Baixo-Pinheiros", mais tarde nomeada por "Estação Memória", que tinha por objetivo explícito estudar o sentido da experiência e a mediação cultural como processo de significação, muito além da coleta, organização e disponibilização de um acervo de relatos de idosos desta região.
Também é adotado o termo pesquisa colaborativa para direcionar “o conhecimento científico resultante de ação cooperativa, pautada pela negociação de signos entre iguais e diferentes, por meio de interações entre pesquisadores de variadas áreas e destes com especialistas e profissionais de diversos campos de atuação” (p. 12). Orientados por princípios da interdisciplinaridade e questões metodológicas dos saberes e fazeres plurais, diversas parcerias com instituições públicas e privadas são estabelecidas, como o Projeto Biblioteca Interativa na escola municipal Roberto Mange, localizada na região do Butantã e posteriormente implementada nas escolas do município de São Bernardo do Campo, originando a Rede Escolar de Bibliotecas Interativas – REBI, projetos que evidenciaram a necessidade de instâncias e de protocolos de mediação, pois as relações informais ou indevidamente explicitadas não podem definir limites entre coordenação e subordinação entre as partes, além de ser um reconhecimento oficial ao grupo de atuação e não uma “obra” de um determinado político.
Novos projetos foram realizados nomeados como Redes de Infoeducação, posta a constatação aberta pela REBI de que as redes de informação devem ser compreendidas também como “redes de significação, integrando num só processo informar e informar-se” (p. 15). As Redes de Infoeducação são importantes pela abordagem de novos processos de apropriação simbólica e uma “perspectiva não orgânica e não-fragmentada das relações entre Informação e Educação” (p. 16).

Diante da hipótese de que há uma vinculação entre dispositivos de informação e cultura e os processos de apropriação simbólica, alguns conceitos foram isolados e outros desenvolvidos:
_Apropriação simbólica: diferente da assimilação definida por “transformação que vai do diferente para o semelhante, do outro para o mesmo...” (p. 17), a apropriação é a transformação que segue o sentido oposto: do semelhante para o diferente, o sujeito se apropria do mesmo modo que o transforma num processo de negociação, investimento e luta. Conforme Chartier “apropriar-se é transformar o que se recebe em algo próprio (...), é invenção e criação e não simples recepção mecânica e automática de sinais ou de mensagens” (p. 18).

_Protagonismo cultural: é resgatado o conceito histórico do termo do teatro grego ao uso pelos movimentos de resistência e reivindicações populares, ou em situações envolvendo crianças e jovens em diferentes processos sociais e educacionais. Neste artigo também é exposto o termo sistematizado por Costa aplicado ao terceiro setor e o estudo produzido por Ferretti, Zibas e Tartuce sobre o “protagonismo juvenil na literatura especializada e na reforma do ensino médio”.
O protagonista cultural é um sujeito proveniente de diferentes meios e condições, que têm na apropriação de informação e cultura seu ato próprio, “categoria que no âmbito da educação e da cultura distingue-se das de usuários e de consumidores culturais (...) os protagonistas criam e se recriam, num movimento são, ao mesmo tempo, sujeito e objeto dos processos em que se acham inseridos” (p. 20).

_Dispositivos: inicialmente era utilizado o termo Serviços de Informação em Educação para nomear os dispositivos que o grupo desejava estudar, posteriormente verificou-se que os dispositivos vão além de suas dimensões funcionais, eles significam. Trata-se de um agenciamento de elementos tendo em vista uma finalidade e, deste modo, demandam um qualificador.

_Mediação cultural: conceito correlato ao de dispositivo. O termo possui diferentes conceitos às diferentes áreas e desde o século XVII consta no dicionário de língua portuguesa, porém, para as pesquisas em Infoeducação é ação de produção de sentidos e não mera intermediação ou transmissão anódina de signos que interessa.

_Estação do Conhecimento: termo proveniente das Estações Culturais, que se caracterizam como agenciamento de elementos concretos e abstratos, pautados por critérios gerais de ordenação que visam processos de apropriação simbólica e de protagonismo cultural. As Estações do Conhecimento são desenvolvidas, não exclusivamente, mas sobretudo em situações escolares, e cuja finalidade específica são as aprendizagens informacionais, infoeducar, ações indispensáveis aos processos de apropriação simbólica. Seus objetivos, projetos e programas de Infoeducação ocorrem de modo sistemático, contínuo e permanentemente.

Embora sejam situações complexas e envolvem contextos e realidades plurais neste imenso país, tais conceitos são importantes para nos ajudar na compreensão e reflexão sobre a situação atual das áreas relacionadas à Educação e Informação. De fato, como exposto no artigo, de pouco ou nada adiantam ações políticas como a doação de livros às escolas, ou projetos como a implantação de bibliotecas em cada município se não são consideradas “as mediações educativas e culturais que se fazem necessárias para que os processos de apropriação simbólica se efetivem” (p. 19).
O contexto atual exige que novos fazeres e novos saberes sejam considerados como novos paradigmas e modos de atuar de forma a estar atento às oportunidades de aprendizado – aprender a aprender. Aprender a informar-se é ação “sobre os significados e os significantes, os saberes e dispositivos”.
Deste modo, tão ou mais importante que os recursos financeiros e tecnológicos está o papel do profissional, ou de um novo profissional como é o caso do infoeducador com o “domínio da lógica e do funcionamento das Estações do Conhecimento e das Estações Culturais”. Trata-se de um gestor de recursos e de processos de mediação com vistas ao aprendizado informacional indispensável à apropriação simbólica e ao protagonismo cultural.
Assim, há importantes diferenças entre a Infoeducação e a Educação de Usuários, Information Literacy, entre outros termos. A distinção é o fato da Infoeducação não segmentar a Informação da Educação, tão pouco seus objetivos situam-se além da funcionalidade, do desenvolvimento de habilidades, ou competências, mas situa-se nos “desvãos das Ciências da Informação e da Educação, voltada à compreensão das conexões existentes entre apropriação simbólica e dispositivos culturais, como condição à sistematização de referências teóricas e metodológicas necessárias ao desenvolvimento dinâmico e articulado de aprendizagens e de dispositivos informacionais, compatíveis com a demanda crescente de protagonismo cultural, bem como de produção científica” (p. 20).

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