quarta-feira, 7 de maio de 2008

RESENHA SOBRE O CAPÍTULO “A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA”, DE AUTORIA DE PHILIPPE PERRENOUD_POR LUCIANA

RESENHA SOBRE O CAPÍTULO “A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA”, DE AUTORIA DE PHILIPPE PERRENOUD_POR LUCIANA

Resenha de capítulo do livro de Phillippe Perrenoud Construir as Competências desde a Escola, Porto Alegre (Brasil), Artmed Editora, 1999_por Luciana Rodrigues

Na obra Construir as Competências desde a Escola o professor Phillippe Perrenoud, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra, propõe reflexões sobre caminhos e descaminhos possíveis nas salas de aulas para a construção de competências dos estudantes, afim de que esses possam adquirir habilidades que sirvam também para situações extra-escolares, em suas palavras “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. A presente resenha, a despeito de todo o interesse que as temáticas hasteadas pelo autor ao longo de todo o livro, limita-se ao primeiro capítulo, intitulado A Noção de Competência.

A primeira questão que se coloca é: a construção de competências seria oposta à construção dos saberes? A missão das escolas de transmitir saberes estaria sendo substituída pela de desenvolver competências? Perrenoud defende, na página 10 da obra em tela, que ao construir competências as escolas devem mudar seus conteúdos, tornando seus currículos promotores de uma restrição “drástica da quantidade de conhecimentos ensinados e exigidos”.

Todos os seres humanos, explica Perrenoud, têm capacidades de construir competências, que vêm em seu patrimônio genético. Todavia essas potencialidades não vão se transformar em competências efetivas de forma espontânea, elas necessitam de aprendizados, que serão apreendidos de formas diferenciadas pelos indivíduos. Essas peculiaridades que cada indivíduo possui tornam as generalizações nas escolas bastante inoperantes, ao contrário do desenvolvimento voltado para as competências, que podem produzir um número infinito de ações não programadas, onde os mesmos ensinamentos, com base em situações reais, podem ser usados e mobilizados em diferentes momentos e situações do cotidiano, complexos e imprevisíveis a priori. Esta “estranha alquimia” a que se refere Perrenoud é própria de cada sujeito e é por ele subjetivamente mobilizada, porém pode (e deve) ser estimulada e exercitada pelo contexto e pelas necessidades reais de atuar para resolver os problemas.
Por isso contextualizar os saberes nas escolas, ancorando-os em ações, é muito mais eficaz do que a mera construção de uma erudição descontextualizada, em grande parte inútil para a vida, como analisa o autor que vem ocorrendo hoje. Os conhecimentos e as competências devem estar completamente atrelados, desenvolvidos conjuntamente e sem relação hierárquica, reforçando-se reciprocamente.

A noção de competências é uma questão de transposição didática, para Perrenoud. Não é suficiente que as escolas se apoiem somente na legitimação acadêmica, muitas vezes meramente reflexiva e idealista. Há que se buscar, no processo, uma legitimação cultural, a partir de análises realistas de situações da vida.

A escola só pode preparar para a diversidade do mundo trabalhando-a explicitamente, aliando conhecimentos e savoir-faire a propósito de múltiplas situações da vida de todos os dias (PERRENOUD, 1999: 75).


Daí que essa transposição não pode prescindir de transformações radicais tanto na forma quanto no conteúdo, voltadas para abordagem por competências. Não se trata de uma defesa, ressalta o autor, na renúncia de disciplinas por conteúdos simplesmente transversais e polivalentes, mas da discussão de que disciplinas adotar: Em toda hipótese, as competências mobilizam conhecimentos, dos quais grande parte é e continuará sendo de ordem disciplinar (PERRENOUD, 1999: 40). A mudança do tradicional esquema curricular disciplinar residiria em que as disciplinas seriam ferramentas para o desenvolvimento das competências.

Resumindo: Philip Perrenoud considera que as políticas educacionais devem sofrer grandes transformações para que os saberes não se afastem das realidades da vida dos estudantes, que é o que fazem ao não priorizarem o desenvolvimentos de competências com base nas observações de práticas sociais, identificando situações cotidianas a serem enfrentadas. A transferência e a mobilização das capacidades e conhecimentos devem ser práticas constantes, que necessitam de trabalho e treinamento, que demandam tempo, etapas didáticas e situações específicas, cujo objetivo maior seja a de que os estudantes possam mobilizer os ensinamentos apreendidos sempre que a vida, laboral ou não, exigir.

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