sábado, 10 de maio de 2008

Resenha: PERRENOUD, P: Construir as competências desde a escola_Elisangela

Oi, pessoal!
Desta vez eu é que fiquei sem algumas páginas (27 e 28), não fui "competente" em conferir o xerox. Mas mesmo assim segue a minha resenha.
Ah, Feliz Dia das Mães!!! (a quem já tem sua prole)
Bjs,
Elis
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Resenha:
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 19-33.
Já no início do texto Perrenoud nos alerta: não há uma definição clara da palavra competência, mas identifica versões aceitáveis, porém que pouco auxiliam para a compreensão do termo:
1) competências por objetivos - vinculada ao ensino em termos de condutas ou práticas observáveis. Implica na possibilidade de o ensino e avaliação por objetivos acontecer sem a preocupação com a transferência dos conhecimentos e, menos ainda, com sua aplicação em situações complexas. É avaliada para fins de regulação e para certificação.
Neste sentido, vale recordar as avaliações de competências aplicadas em algumas empresas, cuja meta, se alcançada, implica em uma premiação ao funcionário.
2) oposição entre a noção de competência e desempenho – o desempenho observado é o indicador de uma competência que acrescentada ao verbo “saber” é então nomeada.
3) competência considerada como uma faculdade genérica, uma potencialidade de qualquer mente humana – de acordo com Chomsky, citado por Perrenoud, a competência é a capacidade de continuamente improvisar e inventar algo novo, sem lançar mão de uma lista preestabelecida. Entretanto, o autor pondera que “as potencialidades do sujeito só se transformam em competências efetivas por meio de aprendizados que não intervêm espontaneamente (...) e que também não se realizam da mesma maneira em cada indivíduo” (p. 20).

De fato, cada pessoa tem o seu tempo, histórico e contextos para o aprendizado, para apropriar-se do conhecimento. Há ainda situações não rotinizadas às quais requerem uma reflexão, uma deliberação interna, identificação de analogias, uma consulta até de referência ou de pessoas para que desenvolva ou se recorde uma competência, pois uma competência mobiliza saberes. Ser competente é “saber-mobilizar”, conforme termo de Le Boterf (1994). Assim, a experiência nos mostra que de nada vale o sujeito possuir conhecimentos e capacidades, mas não saber usá-los de modo adequado, no momento oportuno e dentro de um determinado contexto. Vale lembrar a estória de Sherazade e as mil e uma noites, a inteligência e beleza pouco adiantaria se a jovem não fosse perspicaz em saber aplicá-las. Minha reflexão: talvez o desafio esteja em saber ser competente. Será que a escola está preparada para apoiar nossas crianças neste desafio? Digo apoiar, pois há também o pressuposto do envolvimento familiar e o contexto sócio-histórico envolvidos. Diante de tantas diversidades, de qual escola estamos tratando? E àqueles que sofrem as iniqüidades no cotidiano?

De acordo com o texto, há diversos métodos de educação que procuram ajudar os sujeitos a dominarem os mecanismos de pensamento, contudo, não é possível estabelecer padrões universais aplicáveis aos processos de cognição, mesmo porque na prática, “não se é confrontado com um enunciado, mas com uma situação” (p. 32). Em que pese todo o avanço da neurosciência, ainda há a incógnita sobre como o conteúdo apreendido e como os saberes vem à tona nos momentos necessários.

Ao expôr uma situação de aprendizado de uma língua estrangeira, o autor nos mostra que o conhecimento é indispensável para a inteligibilidade das observações e para a construção de hipóteses, mas sua mobilização não é espontânea e nasce de um intenso treinamento, pois “construir uma competência significa aprender a identificar e a encontrar os conhecimentos pertinentes. Estando já presentes, organizados e designados pelo contexto, fica escamoteada essa parte essencial da transferência e da mobilização” (p. 22). Assim, o ensino deveria propor múltiplas vivências para treinar o uso prático, a mobilização dos conhecimentos e constituir esquemas para estabelecer as competências para desta forma, enfrentar conjuntos de situações.

Ocasionalmente associam-se os esquemas aos hábitos, conforme o autor “os hábitos são esquemas, simples e rígidos, porém nem todo esquema é um hábito (...), pois o esquema deve ser uma ferramenta flexível” (p. 23). Perrenoud cita Bourdieu e a definição de hábito como “um pequeno lote de esquemas que permitem gerar uma infinidade de práticas adaptadas a situações sempre renovadas, sem jamais se constituir em princípios explícitos” (p. 24).
Para o autor a diferença entre esquema e competência é que o primeiro é uma totalidade constituída, que sustenta uma ação ou operação única, e competência envolve com complexidade diversos esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação.

Deste modo, em situações extremas é difícil inferir qual será a reação do sujeito, se haverá a construção rápida de um novo aprendizado, ou a desistência por completo de domínio da situação. Entretanto, nem todas as situações requerem o domínio de competências particulares, algumas supõem apenas a simples observação.

No exercício da prática profissional, pelo menos no que se imagina das rotinas de trabalho, as competências constroem-se a uma velocidade maior, já que dependem de uma forma de inteligência situada e, muitas vezes, contam com manuais, procedimentos e habilidades específicas. Por habilidade, Perrenoud entende como uma “’inteligência captalizada’, uma seqüênciada de modos operatórios, de analogias, de intuições, de induções, de deduções, de transposições dominadas, de funcionamentos heurísticos rotinizados que se tornaram esquemas mentais de alto nível ou tramas que ganham tempo, que ‘inserem’ a decisão” (p. 30).

Muitas das noções de competência mencionadas ao final do texto, sobretudo ao afirmar a ação competente como uma “invenção bem-temperada” fazem recordar a ação do “protagonista cultural” por ser este agente e beneficiário da ação, já que a “competência, ao mesmo tempo que mobiliza a lembrança das experiências passadas, livra-se delas para sair da repetição, para inventar soluções parcialmente originais, que respondem, na medida do possível, à singularidade da situação presente”.

Com o estímulo do autor, faço uma analogia ao último item do texto “O que está em jogo na formação” tanto a expressão “jogo” e a palavra “competência” lembram o verbo “competir”, que por sua vez remete à rivalidade, concorrência e situações de conflitos. Neste caso, conforme as teses levantadas pelo autor, busca-se vencer e superar uma forma escolar que está se esgotando e o desenvolvimento de competências no sistema educacional é um rumo à evolução. De fato, as competências são importantes metas da formação seja para adaptação ao mercado, ao aprendizado e às relações sociais, mas esta evolução exige importantes transformações "dos programas, das didáticas, da avaliação, do funcionamento das classes e dos estabelecimentos, do ofício de professor e do ofício de aluno" (p. 33). Enfim, transformações que vão além de recursos financeiros e políticas públicas, mas que envolvem sobretudo a todos preocupados com a educação.

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