domingo, 20 de abril de 2008

Boa noite! Benjamin a caminho...

Boa noite!!
Espero que todos estejam ótimos!
Um excelente feriado para todos!!
Aí vai minha resenha de O narrador.
Um beijo!!!

Lucia
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BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: Magia e técnica, arte e política. São Paulo, Brasiliense. (Obras completas de Walter Benjamin, v.1)

O autor escreveu este artigo em 1936. Ele começa afirmando que:
“Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em sua atualidade viva. Ele é algo de distante, e que se distancia ainda mais. Descrever um Leskov como narrador não significa traze-lo mais perto de nós, e sim, pelo contrário, aumentar a distância que nos separa dele. Vistos de uma certa distância, os traços grandes e simples que caracterizam o narrador se destacam dele.”


Quais são as características (os traços grandes e simples que caracterizam o narrador) de Nikolai Leskov?
1. Escreveu uma série de contos lendários russos cujo personagem central é o justo.
2. Seu ideal é o homem que aceita o mundo sem se prender a ele
3. Considerava a narrativa como um ofício manual
4. Freqüentou a escola dos antigos, no sentido de que evitou dar explicações em suas narrativas, deixando o leitor livre para interpretar a história como quiser
5. É aquele cuja obra demonstra mis claramente o cronista secularizado: é difícil decidir se o pano de fundo da narrativa é sagrado ou profano
6. Segundo Gorki ele é o escritor mais profundamente enraizado no povo, e o mais inteiramente livre de influências estrangeiras
7. Possui uma afinidade profunda pelo espírito dos contos de fadas
8. “Salvos, como nos contos de fadas” são os seres a frente do cortejo humano do autor: os justos. Seus personagens são derivações da imago de sua mãe
9. O justo é o porta-voz da criatura e ao mesmo tempo sua mais alta encarnação
10. Simpatia pelos patifes e malandros
11. Tem consciência de que suas idéias baseiam-se muito mais numa concepção prática da vida do que na filosofia abstrata ou na moral elevada

Entremeando a citação destas características de Nikolai Leskov como narrador, Walter Benjamin tece comentários acerca dos seguintes tópicos:

1. A arte narrativa: A experiência da arte de narrar está em extinção porque as ações da experiência estão em baixa, o senso prático é uma das características de muitos narradores natos, a narrativa tem uma dimensão utilitária, o narrador é um homem que sabe dar conselhos, a arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção

2. O surgimento do romance: o primeiro indício da evolução que vai culminar na morte da narrativa é o surgimento do romance no início do período moderno... o que separa o romance da narrativa é que ele está essencialmente vinculado ao livro, a origem do romance é o indivíduo isolado, o romance se disvincula da tradição do conselho e da sabedoria

3. O surgimento da imprensa: “Por outro lado, verificamos que com a consolidação da burguesia – da qual a imprensa, no alto capitalismo, é um dos instrumentos mais importantes – destacou-se uma forma de comunicação que, por mais antigas que fossem suas origens, nunca havia influenciado decisivamente a forma épica. Agora ela exerce essa influência. Ela é tão estranha à narrativa como o romance, mas é mais ameaçadora e, de resto, provoca uma crise no próprio romance. Essa nova forma de comunicação é a informação.”

4. A diferença entre informação e narrativa: A informação aspira a uma verificação imediata, ela precisa ser compreensível em si e para si, ela precisa ser plausível e bem explicada, ela só tem valor no momento em que é nova. A narrativa é o saber que vem de longe, tanto geográfica como temporalmente), relatos narrativos frequentemente recorrem ao miraculoso, o episódio narrado dá liberdade para o ouvinte interpretar a história como quiser, tem amplitude e sobrevive e se desenvolve, é capaz de suscitar espanto e reflexão

5. A a mudança da percepção da morte na consciência coletiva e sua conseqüência para a arte narrativa: Pode-se observar que a idéia da morte vem perdendo sua onipresença e força de evocação. Durante o século XIX a burguesia permitiu aos homens, com suas instituições higiênicas e sociais, evitarem o espetáculo da morte. Com o confinamento da morte, o saber transmissível e com autoridade se limita.

6. O “sentido da vida” nos romances: O sentido da vida é o centro em torno do qual se movimenta o romance, o que seduz o leitor nos romances é a esperança de aquecer sua vida gelada com a morte descrita no livro.

7. Os contos de fadas: O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo o narrador de contos de fadas, que ensinou a humanidade e continua ensinando as crianças que o mais aconselhável é enfrentar o mundo mítico com astúcia e arrogância.

8. A interação da alma, do olho e da mão na arte do narrador e do artesão: A antiga coordenação da alma, do olhar e da mão é típica do artesão, e é ela que entramos sempre, onde quer que a arte de narrar seja praticada.

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