Corda Bamba
Do outro lado da corda, os morangos silvestres
Maria vivia sem suas lembranças. A perda de seus pais havia apagado suas memórias de infância, sua vida estava sem palavras, sem imagens.
Ao abandonar o circo, ao ser levada para o outro mundo, o mundo da avó tão segura debruçada sob sua fortuna, Maria perde o fio que ainda a mantinha em equilíbrio – a corda bamba.
Ao passar para o outro lado da corda, o cabo de aço de sua memória, Maria reencontrava cada pedaço de sua vida, construindo sua narrativa. Embora não tenham sido suas as escolhas anteriores, as portas ela podia escolher. Qual abriria? A amarela? A vermelha? E o que atrás da porta encontraria?
- Maria
Atrás de cada cor estava um pouco de sua história, cada uma contava um capítulo de Maria, que nasceu de um amor clandestino, entre aquela que tudo tinha com o outro que tudo procurava.
Marcelo precisava “arriscar de morrer para poder viver”. Reencontrou a coragem para viver a corda bamba – a paixão.
Márcia precisava arriscar de viver para morrer. Entre a terra firme e a corda bamba, ela escolheu a liberdade – o amor.
Das escolhas de Marcelo e Márcia, nasceu Maria.
Agora, outra história se escrevia.
Maria recolhia seus morangos, sabores e dissabores de uma vida passada, curta, ainda, mas longa pela distância do esquecimento, do sofrimento em preto e branco que cada porta coloria.
Ao abrir as portas de sua memória, o professor também recolhia seus morangos. Lembranças de sua longa trajetória, esquecidas atrás de portas que há muito tempo não abria. O professor havia colhido mais morangos que Maria. Era homem concursado, honrado e premiado, mas que reencontrou sua história de vida.
Os dois encontraram em seus sonhos o fio entre o passado e o presente. Ambos procuravam esticar a corda e manter-se em equilíbrio.
Vivemos na corda bamba. Somos equilibristas em uma frágil linha chamada vida.
Fechamos e abrimos portas. Somos protagonistas de nossas vidas. Narradores de nossas histórias.
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