RUSSELL, B. O conhecimento inútil. IN: _____. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P. 36-46.
Em seu livro O Elogio ao Ócio(1935),Bertrand Russell, no capítulo segundo – O Conhecimento Inútil – trata de explicar ao leitor as diferentes relações entre o homem , o conhecimento e seu sistema educacional,no período compreendido entre a Renascença e o mundo moderno ,especialmente no entre guerras, ao qual pertenceu.
Na Renascença ,a instrução “ fazia parte da alegria de viver, tanto quanto beber ou amar”.Lembra-nos ,o autor ,que a principal causa do Renascimento “ foi o prazer mental,a restauração de uma certa riqueza e liberdade na arte e na especulação que haviam sido perdidas na época em que a ignorância e a superstição punham antolhos na imaginação”, referindo-se ao período medieval imediatamente anterior.
Apesar de ter havido diferenciação entre estudos mais elevados (filosofia, geometria -até hoje o professor de matemática alega que precisa de mais aulas) , astronomia)que outros,o contato com o conhecimento teórico cientifico era muito valorizado.Porém, a lenta “mudança em direção a uma concepção mais ampla e prática do conhecimento, ocorrida ao longo do sec. XVIII, foi subitamente acelerada pela Revolução Francesa e pelo crescimento do maquinismo.
Em países como Inglaterra e França ,por possuírem sistemas educacionais tradicionais, a visão utilitária do conhecimento ainda não é predominante, mas a velha tradição passa a ser condenada, ao mesmo tempo em que já está extinta em países mais novos como Rússia e EUA. Segundo o autor: “O conhecimento vai deixando de ser visto como um bem em si mesmo ou como o meio de criar-se uma perspectiva de vida humana e abrangente e se transforma em mero ingrediente da aptidão técnica...Os estabelecimentos de ensino devem provar ao Estado que servem aos propósitos úteis de prover qualificação técnica e infundir lealdade”.
Russell reconhece que foi graças ao conhecimento ‘útil’ que se construiu o mundo moderno. É ainda favorável que a educação continue promovendo este tipo de conhecimento .Entretanto, o autor acredita que a educação deva ter outros propósitos além da utilidade imediata, ou seja, defende um meio termo entre utilidade e cultura. Esta última, através da educação, ampliaria gamas de interesses inteligentes não relacionados ao trabalho.
Indo além, Russell relaciona a natureza humana não-treinada (culturalmente) a um forte componente de crueldade que se apresentaria de formas maiores ou menores(maledicências , touradas, caçadas, extermínios ,genocídios ,por exemplo).Isso porque, na busca de admiração e poder, pessoas ignorantes usariam modos brutais para obtê-los . Segundo sua linha de raciocínio, a cultura proporcionaria às pessoas formas menos nocivas de poder e meios mais dignos de se fazerem admiradas.
O autor encerra o capítulo fazendo uma crítica ao momento de cegueira no qual está vivendo, quando convive com “grupos egocêntricos e radicais , incapazes de ver a vida humana com totalidade, e muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro sequer em suas posições”.
Se Bertrand Russell tivesse a oportunidade de encontrar Edgar Morin teria lhe dito: " Eu li o seu livro 'Os sete saberes necessários à educação do futuro'... amanhã!"
domingo, 13 de abril de 2008
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