quinta-feira, 24 de abril de 2008

Resenha de Atos de Significação de Jerome Bruner_por Luciana

Resenha de Atos de Significação de Jerome Bruner_por Luciana

Resenha sobre texto inserido na obra Bruner, J. Atos de Significação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997_por Luciana Rodrigues.


O professor Jerome Bruner atual pesquisador da UNY, que nos anos de 1950 formou em Harvard um grupo interdisciplinar que deu origem o Centro de Estudos Cognitivos, vê o processo mental como constituidor e constituído pelos contextos sociais, sendo a toda a mente, como mente social, criadora de significados. Todos os seres humanos são produtores de significados e deles resultam, através do uso de sistemas simbólicos de cultura. O foco de uma psicologia social seria a de analisar as ações e seus caracteres situacionais e a criação dos significados. Seus estudos foram fundamentais para constituição de uma Psicologia Cultural.

Bruner, em Atos de Significação, critica os rumos enveredados por algumas correntes psicológicas. Na página 17 ele aponta: ““... a ênfase começou a mudar do ‘significado’ para a ‘informação’, da ‘construção’ do significado para o ‘processamento’ de informações”. Uma informação, ressalta, que acaba por ignorar o significado. Esse seria o que Bruner chama de modelo computacional da psicologia.

A psicologia, avalia, passou por algumas revoluções. NA primeira lutou-se contra um distanciamento positivista do seu real objeto em lugar de um estudo sobre as atividades simbólicas dos seres humanos, mas essa superação logo resultou em uma nova postura conservadora, em um novo distanciamento.

A segunda revolução, interpretativista, na Psicologia surgiu, para Bruner, para entender a mente no processo de produção de significados e sua interação com a cultura, uma revolução cognitiva. A psicologia teria uma orientação cultural. Não só QUEM o sujeito é, mas todo o seu entorno, inclusive onde nasceu, suas atitudes, falas e situações deveriam ser estudados, suas intenções, aspirações e crenças. A Psicologia Cultural seria focada na questão do self (si- mesmo), nos significados e seus usos práticos:

Parece-me que uma Psicologia Cultural impõe duas exigências intimamente relacionadas com o estudo do si-mesmo. Uma delas é que tais estudos devem focalizar os significados em cujos termos o si-mesmo é definido tanto pelo indivíduo como pela cultura na qual ele participa. (...) A segunda exigência, então, está em sintonia com as práticas nas quais os significados do si-mesmo são atingidos e colocados em uso. Esta, com efeito, nos oferece uma visão mais distribuída do si-mesmo. (BRUNER, 1997: 101)


Os conhecimentos de todos os indivíduos têm como alicerce o contexto social, o self situa-se cultural e historicamente. Os conhecimentos não se encontram isolados, mas distribuídos em infinitos suportes que permitem usos específicos para diferentes situações.

A criança, desde o nascimento, começa a construir significados, estabelecendo comunicações estruturadas, que vão se enriquecer ainda mais com o desenvolvimento da linguagem.

As análises de Bruner se concentram em alguns aspectos bastante importantes para a questão da educação, pois ele considera o contexto educacional o ideal para testar a psicologia cultural, seja observando como a cultura influencia a aprendizagem, seja verificando seu papel capacitador no desenvolvimento mental. O desenvolvimento intelectual viria do amadurecimento do aluno no processo de exploração de alternativas, propiciadas pelos ambientes abertos ou conteúdos do ensino, aprendizagem por descoberta, através de situações de desafio que levem a resolução de problemas. O brincar adquire grande importância nessas descobertas, Os jogos, como o esconde- esconde, são os primeiros momentos de linguagem da criança, onde uma situação de ritualização agente-ação – objeto-
Sinalização se estabelece com a mãe.

A narrativa se situa entre as brincadeiras infantis e conversas dos adultos, como instrumento de organização destas experiências multidimensionais. As narrativas permitem às crianças sentidos e continuidade. Na narrativa infantil as crianças gradativamente organizam relações lógicas multidimensionais. A narrativa, ocupando um lugar essencial na investigação da mente, seria o princípio organizador da experiência humana, uma forma de dar acesso aos dados e oferecer subsídios à Psicologia Cultural.

Bruner declara que as narrativas, como expressões de forças sociais e históricas, mantém suas características, não importa se imaginárias ou reais, e são que essas hasteiam a questão sobre sua origem. A narrativa possui relação com o significado dado pelo autor às coisas e envolve a negociação e renegociação de significados entre os seres.

As experiências, o material de ação e intencionalidade humanas, dos indivíduos seriam transformadas em narrativas e isso não pode ser ignorado pela Psicologia (tal como fez a Cognitiva, critica Bruner), pois nelas residiriam interpretações da vida em ação. A linguagem seria uma das principais ferramentas da investigação psicológica para busca dos significados. A linguagem não apenas transmite, mas cria realidades e consciências.

Caberia à psicologia interpretativa buscar “as regras que os seres humanos aplicam para a produção de significado em contextos culturais” , valorizando tanto aspectos biológicos quanto as culturas nas quais estão inseridos os indivíduos

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