domingo, 6 de abril de 2008

Resenha do livro de Edgar Morin

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. São Paulo, Cortez, 2000. 177p.

Edgar Morin começa seu tratado a a respeito do que ele acreditar ser os elementos necessários a educação do futuro (que começa hoje) apontando as falhas da educação atual: o ensino fragmentado em disciplinas, a arrogância dos paradigmas racionalistas que não levam em conta a afetividade do ser humano. Ele descreve os erros e as ilusões do conhecimento, como os erros mentais, intelectuais, racionais e a cegueira dos paradigmas. Uma surpresa maravilhosa é o conceito de noologia e sua descrição. Sua explicação a respeito da incerteza do conhecimento é desafiante.
Após abrir os nossos olhos para a natureza do conhecimento, o autor fala a respeito da pertinência dele. Denuncia sua inadequação frente aos desafios do mundo.
“A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro lado, as realidadees ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.”
O autor enumera e descreve as noções de contexto, global (a relação entre o todo e as partes), o multidimensional e o complexo, enumera os problemas essenciais (disjunção e especialização fechada, redução (restrição do complexo ao simples) e a falsa racionalidade.
A seguir o autor fala da condição humana (simultaneamente dentro e fora da natureza), do duplo princípio biofísico e psico-sócio-cultural. Segundo ele:
“O homem é portanto, um ser plenamente biológico, mas se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível”.
O autor enumera a explica três circuitos da natureza humana:
1. Circuito cérebro-mente-cultura
2. Circuito razão-afeto-pulsão
3. Circuito indivíduo-sociedade-espécie

O autor também fala a respeito da unidade e diversidade humanas em suas esferas individual, social, cultural, as dualidades sábio louco, trabalhador lúdico empírico imaginário, econômico e consumista, prosaico e poético.

No capítulo 4 o autor expõe a mundialização, fala-nos do histórico deste processo que se iniciou no século XV e cita suas características no século XX.
O autor cita do legado do século XX (a herança da morte e os novos perigos (degradação ambiental, as novas e antigas doenças e as drogas), a morte da modernidade, bem como a nova esperança e a contribuição das contracorrentes).
Segundo o autor:
“Pode-se igualmente pensar que todas as aspirações que nutriram as grandes esperanças revolucionárias do século XX, mas que foram frustradas, poderão renascer na forma de nova busca de solidariedade e de responsabilidade
(...)
Precisamos doravante aprendeu a ser, viver, dividir e comunicar como humanos do planeta Terra, não mais somente pertencer a uma cultura, mas também a ser terrenos”

O autor continua, dizendo que devemos inscrever em nós:
1. A consciência antropológica
2. A consciência ecológica
3. A consciência cívica terrena
4. A consciência espiritual da condição humana

No capítulo 5 o autor diz que ‘o século XX descobriu a perda do futuro, ou seja, sua imprevisibilidade”(...) A tomada de consciência da incerteza histórica acontece hoje com a destruição do mito do progresso.” Para tanto, o autor descreve acontecimentos do século XX. Que interessante, descubro que este livro de Morin é contemporâneo do de Virilio, quando leio:
Quem, em janeiro de 1999, teria sonhado com os ataques sobre a Sérvia, em março de 1999, e no momento em que estas linhas são escritas, pode medir suas conseqüências?

O autor afirma que a educação do futuro deve voltar-se para as incertezas ligadas ao conhecimento pois existem princípios de incerteza: ccérebro-mental, lógica, racional, psicológica.
Há a incerteza do real, do conhecimento, da ação, e a imprevisibilidade a longo prazo. Para enfrenta-las são necessários meios para enfrenta-las, que são: o elemento de aposta nas decisões e a estratégi a em que se apresenta sempre de maneira singular em função do contexto e em virtude do próprio desenvolvimento, o problema da dialógica entre fim e meios.

No capítulo 6 o autor nos lembra que “nenhuma técnica de comunicação, do telefone a Internet, traz por si mesma a compreensão”. O autor continua: “Educar para compreender a matemática ou uma disciplina determinada é uma coisa, educar para a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade”

Pergunto eu: Isso não é tarefa dos pais ou familiares?

O autor continua afirma que há 2 formas de compreensão: a compreensão objetiva (Pessoa objeto) e a compreensão intersubjetiva (Pessoa pessoa), em que há empatia, identificação simpática e projeção.

O autor enumera os obstáculos exteriores à compreensão intelectual ou objetiva:
* Ruído
* Polissemia
* Ignorância dos ritos e costumes dos outros
* Incompreensão dos valores imperativos propagados no seio de outra cultura, dos imperativos éticos próprios a uma cultura
* Impossibilidade de compreender as idéias ou os argumentos de outra visão de mundo e de compreensão de uma estrutura mental em relação a outra.

Estes obstáculos devem-se ao egocentrismo, etnocentrismo-sociocentrismo e ao espírito redutor.
Para combater estes obstáculos o autor sugere:
A ética da compreensão
O bem pensar
A introspecção


“ A compreensão do outro requer a consciência da complexidade humana e que a verdadeira tolerância não é indiferente às idéias ou ao ceticismo generalizado. Supõe convicção,fé, escolha ética e, ao mesmo tempo, aceitação das idéias contrárias às nossas”
O autor afirma que “devemos relacionar a ética da compreensão entre as pessoas com a ética da era planetária, que pede a mundialização da compreensão, A única verdadeira mundialização que estaria a serviço do gênero humano é o da compreensão, da solidariedade intelectual e moral da humanidade (...) A compreensão é ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana (...) Dada a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão necessita da reforma planetária das mentalidades, esta deve ser a tarefa da educação do futuro.”

No capítulo que fecha o livro o autor nos fala da ética propriamente humana, a antropoética, digo, a antropo-ética, que dever ser considerada como a ética da cadeia de três termos: indivíduo-sociedade-espécie, O autor fala longamente a respeito da importância da democracia (outro francês...). Eis um trecho significativo:
“Assim, todas as características importantes da democracia têm um caráter dialógico que une de modo complementar termos antagônicos: consenso e conflito, liberdade, igualdade e fraternidade, comunidade nacional e antagonismos sociais e ideológicos. Enfum a democracia depende das condições que dependem de seu exercício (espírito cívico, aceitação da regra do jogo democrático).
Ele termina seu capítulo, a meu ver forma muito humilde, afirmando que:
“Na verdade, a dominação, a opressão, a barbárie humanas permanecem no planeta e agravam-se. Trata-se de um problema antropo-histórico fundamental, para o qual não há solução a priori, apenas as melhoras possíveis e que podem tratar do processo multidimensional, que tenderia a civilizar cada um de nós, nossas sociedades, a Terra...
Não possuímos as chaves que abririam as portas de um futuro melhor. Não conhecemos o caminho traçado. Ao andar se faz o caminho.

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