domingo, 27 de abril de 2008

Texto relativo ao texto de Jerome Bruner

Boa noite!
Espero que todos estejam bem.

Lamento informar que desta vez a minha resenha é bem diminuta e não cobre todo o capítulo 1 de Atos de significação por 3 razões:
1. Por mais incrível que pareça, quando comecei a ler o texto, descobri que o meu exemplar da cópia xerocopiada tinha apenas as páginas da frente!! As páginas do verso estavam em branco!! Logo, eu tinha apenas metade do capítulo!!
2. Para piorar, esta semana eu fiquei doente, com uma infecção na garganta, de modo que não pude ir a USP para tirar a cópia inteira.
3. A publicação brasileira de Atos de significação está mais do que esgotada, não a achei nem na Estante Virtual, de modo que precisei me resignar e trabalhar com a minha meia cópia.

Enfim, vamos ao que interessa:


BRUNER, Jerome. O estudo adequado ao homem. IN: Atos de significação. Porto Alegre, Artmed, 1997. p.13-38

Lendo este texto (ou, pelo menos o que pude ler dele), percebi algumas semelhanças com o pensamento de Edgar Morin, a saber: a dualidade biológica-cultural do homem, valorizando a importância da cultura, a importância da tolerância e do conhecimento dialético (dialética sim, dogmatismo não) e a importância da democracia.
Vejamos:

Assim diz Bruner:
O divisor na evolução humana foi cruzado quando a cultura se tornou o fator principal para dar forma às mentes daqueles que viviam sob sua influência. Produto da história e não da natureza, a cultura agora tornou-se o mundo ao qual nós tínhamos que nos adaptar e o kit de ferramentas para fazer isso (...) Como Clifford Geertz coloca, sem o papel constitutivo da cultura nós somos monstruosidades não trabalháveis... animais incompletos ou inacabados que se completam ou acabam através da cultura”

Esta afirmação faz-me lembrar das seguintes palavras de Morin:
“O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível.”
(MORIN:2000, p.52)

Outra fala de Bruner:
“Se a cultura forma a mente, e se as mentes emitem estes julgamentos de valor, nós não estamos enclausurados num relativismo inescapável? Seria melhor que que examinássemos o que isso poderia significar. É o lado epistemológico do relativismo, e não o avaliatório, que deve nos preocupar em primeiro lugar. O que conhecemos é absoluto, ou é sempre relativo a alguma perspectiva, a algum ponto de vista? (...) em grande parte da interação humana as “realidades” resultam de processos prolongados e intricados de construção e negociação, profundamente imbricados na cultura. (...) A alegação básica do construtivismo é simplesmente de que o conhecimento é “certo” ou “errado” à luz do ponto de vista que escolhemos assumir. (...) O melhor que podemos esperar é que estejamos cientes do nosso próprio ponto de vista, assim como do ponto de vista dos outros, enquanto fazemos nossas reivindicações de “correção” ou de “erro”. (...) Tudo o que podemos esperar é um pluralismo viável apoiado numa disposição para negociar diferenças entre distintas visões de mundo.”

Tais afirmações de Bruner remetem às questões de tolerância e conhecimento dialético de Morin.
“A verdadeira tolerância não é indiferente às idéias ou ao ceticismo generalizado. Supõe convicção, fé, escolha ética e ao mesmo tempo aceitação da expressão das idéias, convicções, escolhas contrárias às nossas. A tolerância supõe sofrimento ao suportar a expressão de idéias negativas ou, segundo nossa opinião, nefastas, e a vontade de assumir esse sofrimento.”
(MORIN:2000, p.102)

“A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe resiste. Opera o ir e vir incessante entre a distância lógica e a instância empírica; é o fruto do debate argumentado das idéias, e não a propriedade de um sistema de idéias. O racionalismo que ignora os seres, a subjetividade, a afetividade e a vida é irracional. (...) A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela capacidade de identificar suas insuficiências”
(MORIN:2000, p.23)

Outra fala de Bruner que percebi ecoar Morin (digo ecoar porque li Morin primeiro) é a importância que ele atribui a democracia.
Vejam só:
“Este tema conduz diretamente ao último assunto geral que eu me sinto na obrigação de firmar como uma razão adicional pela qual acredito que uma psicologia cultural como a que estou propondo não precisa atormentar-se com o espectro do relativismo. Ela se refere a mentalidade aberta, seja em política, ciência, literatura, filosofia ou artes. Eu considero a mentalidade aberta como uma disposição para construir conhecimento e valores a partir de perspectivas múltiplas, sem perda do comprometimento com os nossos próprios valores. Mentalidade aberta é a pedra fundamental do que nós denominamos cultura democrática. (...) Como todas as culturas, ela se fundamenta em valores que geram estilos de vida, com as correspondentes concepções de realidade. (...) Eu considero o construtivismo da psicologia cultural como uma expressão profunda da cultura democrática.”

Vejamos a fala de Morin:
“A democracia necessita ao mesmo tempo de conflitos de idéias e de opiniões, que lhe conferem sua vitalidade e produtividade. (...) Desse modo, exigindo ao mesmo tempo consenso, diversidade e conflituosidade, a democracia é um sistema complexo de organização e de civilização políticas que nutre e se nutre da autonomia de espírito dos indivíduos, da sua liberdade de opinião e de expressão, do seu civismo, que nutre e se nutre do ideal Liberdade, Igualdade, Fraternidade...”
(MORIN:2000, 108)

Havia outras falas muito interessantes de Bruner, entretanto elas ficaram truncadas pela ausência das páginas do verso, de modo que preferi abster-me de mais comentários.
Até a próxima!!

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