sábado, 26 de abril de 2008

Resenha: O estudo adequado do homem_Elisangela

Olá!

Segue a minha resenha.

Bjs e bom final de semana,

Elisangela

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BRUNER, J. O estudo adequado do homem. IN: _____. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 15-38.

O autor faz uma crítica à psicologia atual e avalia que o aparente sucesso da Revolução Cognitiva se tornou alienado, fragmentado e tecnicizado ao custo da desumanização do próprio conceito de mente como processador de informações.

Bruner inicia o capítulo com um breve resgate histórico do último quarto de século sobre o que entendia por Revolução Cognitiva cuja meta “era descobrir e descrever formalmente os significados que os seres humanos criavam a partir de seus encontros com o mundo e então levantar hipóteses sobre que processos de produção de significados estavam implicados” (p. 16). Há deste modo, a questão da interdisciplinaridade que a partir da psicologia unia forças com outras disciplinas da área de humanidades e nas ciências sociais e proporcionou a criação de diversos centros de estudo preocupados com a psicologia cultural, com a filosofia da mente e da linguagem.

Mas a ênfase mudou do “significado” para a “informação”. De acordo com Bruner, “o fator-chave da mudança foi a introdução da computação como a metáfora reinante e da informação como um critério necessário para um bom modelo teórico” (p. 17). Pensava-se que tanto a mente humana quanto os processos virtuais dos computadores poderiam ser “explicados” da mesma forma. No entanto, o autor lembra também que uma mensagem é informativa quando reduz as alternativas de escolha e tais sistemas não são capazes de lidar com a imprecisão, a polissemia, etc. Por mais que seja de conhecimento a necessidade da inteligência humana por trás do processamento das informações, termos como “Inteligência Artificial” – “IA” são tão propagados e inseridos no mercado que de fato muitos vezes não reparamos em seus significados.

Para o autor, a cultura é a principal marca da evolução humana, pois é “produto da história, e não da natureza, a cultura agora se tornou o mundo ao qual nós tínhamos que nos adaptar e o kit de ferramentas para fazer isso” (p. 22). Esta afirmação é feita por três razões:

1ª ponto metodológico: o argumento constitutivo, pois “tratar o mundo como um fluxo indiferente de informações a ser processada pelos indivíduos, cada qual em seus próprios termos, é perder de vista como os indivíduos são formados e como eles funcionam” (p. 22).

2ª o significado é tornado público e compartilhado - “vivemos publicamente através de significados públicos, compartilhados por procedimentos públicos de interpretação e negociação” (p. 23). Assim, é necessário que a interpretação seja publicamente acessível para que a cultura não entre em desordem, bem como os indivíduos que dela fazem parte.

3ª a psicologia popular, frequentemente indistinguível da história cultural e muda com as transformações culturais que ocorrem em resposta ao mundo e seus habitantes, mas resiste a ser reduzida à objetividade e, portanto, está arraigada em uma linguagem e em uma estrutura conceitual compartilhada como crenças, valores, preconceitos, etc.

A seguir Bruner trata do alarme movido pelo positivismo da psicologia científica em não adotar como explicações noções originadas no estado intencional, bem como ao relativismo que requer uma teoria diferente para cada cultura que estudamos. O autor alerta sobre a valorização do agir “o que as pessoas fazem”, do que o que as pessoas “dizem”, porém mediada pela observação do comportamento.

Em contrapartida, a psicologia de orientação cultural não descarta as reflexões sobre os estados mentais, “há uma congruência interpretável entre dizer, fazer e as circunstâncias nas quais o dizer e o fazer ocorrem” (p. 27).

O autor também critica a simplicidade do construtivismo em apontar o “certo”, ou “errado” de acordo com o ponto de vista que escolhemos assumir, pois não há verdades e falsidades absolutas. Neste tópico do relativismo, há duas visões psicológicas: “romantico-irracionalista” sustenta que os valores são funções de reações viscerais, conflitos psíquicos deslocados, etc., e os “racionalistas”, derivada principalmente da teoria racional que defende a expressão dos nossos valores nas nossas escolhas, orientados por modelos de utilidade e pela teoria econômica. “À medida que os racionalistas levam a cultura em consideração, ela é como uma fonte de provisão, um armazém de valores a partir dos quais fazemos nossas escolhas em função dos nossos impulsos ou conflitos individuais” (p. 33).

Porém, é necessário considerar que o “estilo de vida” e as rápidas mudanças da vida moderna poderão criar conflitos de comprometimento e incertezas que para superá-las é necessário a disposição para negociar as diferenças e a “mentalidade aberta como uma disposição para construir conhecimento e valores a partir de perspectivas múltiplas, sem perda de comprometimento com os nossos próprios valores” (p. 34).

Na última parte do capítulo Bruner contrapõe a psicologia científica em seu “direito de negar a eficácia causal dos estados mentais e da própria cultura” (p. 35) e a psicologia popular “das pessoas comuns” baseada nas crenças e costumes populares. Neste ponto que começa a psicologia, interdisciplinar a outras ciências culturais, pois muito além das restrições da razão biológica, a cultura e a busca por significado são a mão modeladora das limitações impostas à psicologia popular.

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