sábado, 12 de abril de 2008

Resenhas_O conhecimento "inútil"_Elisangela

Olá pessoal!

Adorei este texto!!!

Bjs e bom final de semana,
Elisangela
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RUSSELL, B. O conhecimento inútil. IN: _____. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P. 36-46.

Russell nos brinda com esta irônica reflexão sobre a incessante busca do homem por dinheiro, desvencilhando-se cada vez mais do que realmente lhe proporciona prazer: O lazer. O texto inicia com uma retomada à Alta Idade Média, quando Francis Bacon afirmou que “conhecimento é poder”, neste caso, referia-se ao conhecimento científico. Para a época, um homem instruído dominava os conhecimentos da astrologia, farmacologia e alquimia. Hoje não só o domínio da ciência é importante ao homem, mas também, ou talvez até com maior grau de relevância, o domínio dos mercados financeiros, com sua terminologia própria e volatilidade peculiar.
Conforme o autor, a Renascença, originária do prazer mental, da restauração da riqueza e liberdade na arte, trouxe consigo a revolta contra a concepção utilitária do conhecimento. Porém, com os ciclos históricos de transformações, na Revolução Francesa e com o crescimento do maquinismo houve uma mudança gradual em direção a uma concepção mais ampla e prática do conhecimento. Desde este momento, “as pessoas passaram a questionar o valor do chamado conhecimento "inútil” com vigor crescente, passando a acreditar mais e mais que o único conhecimento digno de mérito é aquele que se pode aplicar a algum setor da vida econômica e da coletividade” (p. 38).
De fato, desde que o homem deixou de viver para trabalhar, mas trabalha para viver a aquisição de conhecimentos e a busca por aprendizado passou a ser estritamente utilitária, pois como afirma a máxima “tempo é dinheiro” e, de acordo com a atual lógica de interesses, não é possível perder tempo com algo que não proporcione lucro financeiro.
O autor cita que em toda parte o conhecimento transforma-se em ingrediente da aptidão técnica e mesmo as palavras contempladas no vocabulário lecionado em muitos estabelecimentos de ensino tem o propósito exclusivo de transmitir informações práticas – esqueceram da literatura, da filosofia.
Russell não defende o currículo tradicional na educação, mas afirma que “utilidade e cultura, quando concebidas de maneira abrangente, mostram-se menos incompatíveis (...), pois o conhecimento que não contribui para a eficiência técnica possui diversas formas de utilidade indireta” (p. 39). Em muitos pontos do texto, como neste, é possível recordar Morin, sobretudo quando crítica a homogeneização do conhecimento tornando cada vez mais difícil a contextualização dos saberes.
Assim como Morin ao tratar da questão do lazer em sua entrevista ao programa Roda Viva, Russell acredita que este período é uma necessidade de todos, adultos e crianças. O lazer é uma possibilidade de cultura, porém faltam incentivos e possibilidades para desenvolver tal cultura de modo que “as pessoas se ocupem, ao menos em parte a temas amplos e impessoais, e não apenas de seus interesses imediatos” (p. 41), e nem tão pouco que as populações urbanas se ocupem apenas com as diversões coletivas e passivas. O autor afirma ainda que “lazer de sobra só é tedioso para quem não dispõe de uma boa quantidade de interesses e atividades inteligentes” (p. 42).
Russell admite que pessoas instruídas possam ser cruéis, entretanto, o autor faz a inevitável relação da ignorância e os atos de brutalidade praticados (na grande maioria das vezes), por pessoas pouco instruídas que cobiçam o poder e a admiração, mas, que só conseguem obtê-los, de um modo geral, pela força bruta, ou ao unir-se a grupos egocêntricos e radicais “muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro sequer em suas posições” (p. 46).
Assim, para o autor a vantagem mais importante do conhecimento “inútil” é o incentivo a atitude mental contemplativa, pois é a salvaguarda contra a imprudência e preserva a serenidade. Novamente Morin é recordado ao eixo destinado a ensinar a compreensão, pois conforme Russell, “é da combinação do discernimento amplo com a emoção impessoal que brota a sabedoria” (p. 46). Novamente o texto recorda Morin sobre os saberes globais, quando Russell afirma que a sociedade “necessita não de tal ou qual informação específica, mas do conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo”. Deste modo, todos poderão dedicar-se às atividades agradáveis, usando o tempo livre para se divertir em que se inclui ampliar o conhecimento e capacidade de reflexão.

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