Já estou ficando repetitiva: adorei o texto! Seguem as contribuições de minha leitura solitária, parafraseando Benjamin, "devorada, de certo modo".
Bjs e ótimo feriado!
Elisangela
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BENJAMIN. W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: ______. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 3.ed., 1987. p. 197-221.
Neste estudo sobre a obra de Nikolai Leskov, Walter Benjamin, importante pensador alemão, faz um diagnóstico sobre a arte de narrar e a perda do ato de compartilhar experiências, típica do sujeito solitário, ou cuja vivência de situações traumáticas acompanhada por mudanças bruscas e velozes na rotina não permitem a assimilação, a reflexão e as práticas de narrar, ou ainda o simples ato de aconselhar, hoje visto como antiquado. Conforme Benjamin, “Aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada” (p. 200).
O texto permite recordar o distanciamento atual das gerações diante dos anciãos, antes considerados fonte de conselhos sábios e experiência vivida, típicos narradores, para atualmente, em sua maioria, serem vistos com o descaso pelo distanciamento e falta de tempo em ouvir suas narrativas, sua sapiência. Este é o tempo do agir, dos processos rápidos da fabricação alienada, no sentido de confeccionar partes do produto e desconhecer o todo produzido. Ouvir era parte do cenário - dos “tempos” - dos artesãos, que compartilhavam experiências, saberes e, em alguns casos, magia.
Para Benjamin, o surgimento do romance no início do período moderno é o primeiro indício da morte da narrativa. A leitura, antes feita em voz alta e em grupos, com a invenção da imprensa passa gradualmente a ser ato individualizado e a encontrar, além dos livros religiosos, uma diversidade de romances impressos.
Aceito, sobretudo, pela burguesia, o romance á ainda menos prejudicial que a informação, pois de acordo com Benjamin, sobretudo no alto capitalismo, esta é instrumento influente e já fornece pronta todas as explicações, pré-julgamentos e conclusões. Entretanto, ao relacionar Virilio à temática da influência da imprensa e globalização, discordo do autor quando este afirma que o “saber que vem de longe encontra hoje menos ouvintes que a informação sobre acontecimentos próximos” (p. 202). Acredito que este fato é relativo aos interesses locais das "máquinas" por trás da imprensa.
Benjamin aponta algumas importantes diferenças entre a informação e a narrativa: a primeira só tem valor em representar a novidade, já a segunda conduz à reflexão, suscita questões e respostas desenvolvidas pelo ouvinte e ainda conserva forças para depois de algum tempo se renovar e pela memória ser recontada. É difícil não recordar Machado de Assis e o desfecho de Capitu e Bentinho no romance “Dom Casmurro”, quando Benjamin afirma que “o romance, ao contrário, não pode dar um único passo além daquele limite em que, escrevendo na parte inferior da página a palavra fim, convida o leitor a refletir sobre o sentido de uma vida” (p. 213).
Neste sentido, é possível inferir que o leitor sente-se também um pouco autor do romance. Semelhante ao texto de Bethelheim, sobre a psicanálise dos contos de fadas, Benjamin alerta aos narradores para a renúncia às sutilezas psicológicas a fim de que a história seja memorizada pelo ouvinte. A performance do narrador também deve ser considerada como fator importante para a memorização e o encantamento com a história, sendo que a morte é a sanção de tudo o que o narrador pode contar.
O autor, entretanto, ressalta que o homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado, a começar pela narrativa, passando pela escrita (vale lembrar a grafia diferenciada dos jovens na Internet) e estende-se às versões condensadas de livros para adultos e crianças.
De fato, o narrador é visto na atualidade como um protagonista raro, em alguns casos, regionalista, como os repentistas nordestinos e, sobretudo, um ser digno de admiração que evoca a sabedoria e nos traz uma nostalgia de um tempo que pouco, ou nada vivemos.
Um comentário:
É possível relacionar tb. ao filme que assistimos na última aula. Será o fim da memória?
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