CIBERCULTURA
Resenha de Luciana Rodrigues sobre a obra CIBERCULTURA de Pierre Levy. Ed. 34, 1999
Na página 17 do seu livro CIBERCULTURA o filósofo Pierre Levy dá a definição do termo do título: “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atividades, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. O autor recepciona esse novo momento com bastante otimismo, como ele mesmo destaca desde o início dessa obra. A Cibercultura, como herdeira da tradição iluminista do século XVIII, seria de saída uma ação de vanguarda, um movimento feito por jovens visando revolucionar as formas de comunicação, com apropriação de informações pelos mais diferentes sujeitos que podem apreendê-las e transformá-las de acordo com suas crenças, difundindo-as de forma universal, em uma ato de exercício democrático de emancipação.
O ciberespaço se configura como um campo de desenvolvimento de sociabilidade, de real reciprocidade pois seu meio de transmissão, a escrita, o tornaria menos volátil que a radiodifusão, basicamente oral. Por ser um saber que se constrói através da interação entre os participantes seria muito menos “totalizante”. A Cibercultura seria uma terceira fase da história, precedida por uma primeira: da vivência de uma totalidade não universal das pequenas sociedades, fechadas, marcadas por uma cultura oral e da segunda, que seria a do surgimento de um universal totalizante, das sociedades civilizadas, imperialistas, usuárias da escrita.
O real teria dois modos não opostos: o virtual e o atual. O virtual como uma informação potencial que está na rede apenas à espera de que alguém a acesse, disponível a qualquer tempo e espaço, no momento em que aquele leitor tenha condições de fazer uso dela. Ou seja: seria democratizante no sentido de que regiões menos desenvolvidas do planeta teriam acesso às informações e que seria um novo instrumento decisório da própria população de uma cidade.
A relação cidade- ciberespaço precisa ser bem entendida, segundo Levy, pois deve superar a versão meramente representativa, passando a utilizar de verdade os recursos técnicos e de linguagens próprios do ciberespaço. Para ilustrar a má utilização do potencial cita como exemplo os museus virtuais, dizendo que muitas vezes não passam de “catálogos ruins na internet”, ao invés de servirem como espaços de interatividade e criação de obras coletivas. Todavia o ciberespaço não duplica as instituições, eis que não as substitui, nem elimina as funções das cidades físicas. Por se tratar de um potente fator de desconcentração e de deslocalização, aumentando nossa capacidade de intervenção direta, ele torna os intermediários (jornais, revistas, televisão e demais mídias) obsoletos. A relação não é de analogia, assimilação ou substituição, mas de articulação de dois espaço qualitativamente diferentes: o do território e o da inteligência coletiva. Diz o autor:
A inteligência coletiva que fornece a cibercultura é ao mesmo tempo um veneno para aqueles que dela não participam (e ninguém pode participar completamente dela, de tão vasta e multiforme que é) e um remédio para aqueles que mergulham em seus turbilhões e conseguem controlar a própria deriva no meio de suas correntes” (LEVY, 1999: 30)
O verdadeiro conteúdo do ciberespaço, destaca o filósofo tunisiano- francês, precisa ser entendido não como um novo mercado ou nova infra-estrutura técnica, mas como um mecanismo de comunicação transversal (todos-todos) e hipertextual, de interatividade. É, portanto, um mecanismo social, que não implica no acesso ao equipamento, mas aos poderes de decisão.
terça-feira, 25 de março de 2008
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