sábado, 22 de março de 2008

Resenha: Cibercultura (Pierre Lévy) e Estratégia da decepção (Paul Virilio)

Olá pessoal!

Segue a resenha.
Boa páscoa para tod@s!

[]s,
Elisangela
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Se para o otimista Pierre Lévy o ciberespaço, ou Internet, é um dispositivo livre de comunicação, interativo e comunitário a serviço da inteligência coletiva, para Paul Virilio a Internet tem objetivos militares, desempenha o papel de interferência nas opiniões públicas e gera dependência.
De fato, como mostram as posições dos autores, vivemos em um ambiente de contradições, fragmentado em globalizadores e globalizados, centro e periferia, bem como a intensa e por vezes conflituosa interação destes ambientes. Conforme VIRILIO (2000, p.58), “se o lema do poder dos reis dos séculos passados era ‘dividir para governar’, hoje a arrogância do poder se manifesta não apenas na divisão local, mas ainda mais pela multiplicação global, pela confusão cada vez maior dos Estados-nações diante da aceleração dos procedimentos econômico-políticos, o feed-back interativo entre o global e o local”.
Entretanto, no ciberespaço não é esperada uma solução para as desigualdades sociais e, neste ponto, LÉVY (1999, p.234-238) vai além quando reconhece que o acesso ao ciberespaço requer infra-estrutura de comunicação e elevado investimento financeiro para as regiões em desenvolvimento, porém não basta o acesso aos equipamentos e interfaces para superar uma situação de inferioridade:
“É preciso estar em condições de participar ativamente dos processos de inteligência coletiva que representam o principal interesse do ciberespaço. Os novos instrumentos deveriam servir prioritariamente para valorizar a cultura, as competências, os recursos e os projetos locais, para ajudar as pessoas a participar de coletivos de ajuda mútua, de grupos de aprendizagem cooperativa, etc.”
Trata-se, portanto, de uma importante ferramenta complementar aos processos nos campos da educação e formação profissional.
Mas, além da informação em tempo real que o ciberespaço proporciona, é vital a capacidade de análise rápida dos dados. Como afirma VIRILIO, o desafio está em situar os fatos, distinguir o verdadeiro do falso, refletir e posicionar-se diante do fluxo veloz e constante de informações. Para VIRILIO (2000, p.58), longe de ser um instrumento em favor da inteligência coletiva e de concretizar os ideais humanistas preconizados por Lévy, a Internet, instrumento da “revolução da informação” também está a serviço da desinformação: “Desinforma-se o telespectador afogando-o num mar de informações, de dados aparentemente contraditórios (...). A partir de agora, mais é menos! – e às vezes até menos que nada: já não é mais possível distinguir a manipulação voluntária do acidente involuntário”.
LÉVY (1999, p 225), entretanto, crê na capacidade individual de filtrar o dilúvio informacional e afirma que “é muito mais difícil executar manipulações em um espaço onde todos podem emitir mensagens e onde informações contraditórias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros emissores são controlados por uma minoria”.
Além disso, o autor acredita que quanto mais a informação circula na Internet, melhor é explorada (ascensão do virtual) e maior será o nosso contato (ascensão do atual), porém, o virtual não substitui o real, mas “são adicionados aos dispositivos anteriores ou os tornam mais complexos em vez de substituí-los” LÉVY (1999, p.211). Neste sentido, cabe a reflexão sobre o mesmo espanto e surpresa que vivenciamos a expansão intensa e veloz das tecnologias de informação, também nossos antepassados sentiram com as substituições dos suportes (meios) de informação (mensagem): o registro da escrita em papiro, a impressão e distribuição dos livros, etc.
Para Lévy, o ciberespaço é universal pelo fato de se basear na escrita, suporte fundamental de registro e difusão do saber, desde o saber religioso ao conhecimento científico.
O ciberespaço encoraja ainda a formação da rede de relacionamentos e impulsiona transformações, como a interessante idéia de que a leitura e escrita trocam seus papéis “com o hipertexto toda leitura é uma escrita potencial” LÉVY (1999, p.61).
Em todo o livro Lévy ressalta a cibercultura como fruto de um movimento social de busca da interação global entre os participantes, mas reconhece que o universal produz seus excluídos.
De fato, como afirma VIRILIO (2000, p.21) seja para as questões de produção empresarial, pesquisa científica, ou de conflito armado, o domínio dos recursos tecnológicos é hoje o novo modelo de seleção natural, mais importante que o poder político, ou do homem de Estado eleito.

Referências Bibliográficas:

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, 34, 1999.
VIRILIO, Paul. Estratégia da decepção. São Paulo, Estação Liberdade, 2000.

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