Olá pessoal!
Seguem as resenhas dos artigos.
Abraços e bom final de semana,
Elisangela
FERRETI, Celso J.; ZIBAS, Dagmar L.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P. O protagonismo juvenil na literatura especializada e na reforma do ensino médio. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.34, n.122, p.411- 423, maio/ago.2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v34n122/22511.pdf>
O artigo faz uma análise crítica das definições de diversos autores e de aspectos da reforma curricular do ensino médio, cuja aproximação decorre dos ideais da educação para a cidadania. Inicia com um breve histórico do conceito, bem como das transformações sociais e culturais das últimas décadas refletidas nas práticas e vivências dos jovens, bem como na história de suas famílias, como o intenso contato com a informática criando novas formas de ser, viver, consumir, apropriar-se de informações, produzir conhecimentos e manifestações.
Entretanto, como os autores ressaltam, é a partir da década de 90 que o termo “protagonimo”, associado ao jovem, é observado nos textos de diversos documentos oficiais, sendo que as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio constituem o meio legal mais importante para a difusão do protagonismo juvenil no ensino médio. Trata-se de um conceito passível de diferentes interpretações em torno de conceitos híbridos como “participação”, “identidade”, “autonomia” e, sobretudo, a “ação cidadã”, ou “formação de valores e atitudes cidadãs que permitem a esses sujeitos conviver de forma autônoma com o mundo contemporâneo”.
O protagonista, agente e beneficiário da ação, ou o ator principal, como muitos autores definem a partir da origem etmológica do termo protagonistés, não é mais visto como o adolescente causador de problemas, ou ainda apático e alienado, visão predominante desde o arrefecimento do movimento estudantil. Todavia, diversos autores compartilham a noção de que este não pode ser confundido como uma prática meramente preventiva às diversas situações de risco encontradas como o uso e tráfico de drogas, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis e os diversos tipos de violência.
Para Antonio Carlos Gomes da Costa, um dos poucos autores a relacionar a educação formal no Brasil e o protagonismo juvenil, a expressão é designada à ”participação de adolescentes atuando como parte da solução, e não do problema, no enfrentamento de situações reais na escola, na comunidade e na vida social mais ampla”. Trata-se de um método pedagógico que atribui ao professor as funções de orientador e se baseia numa “criação de espaços e condições que propiciem ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e sociais”.
Assim como Costa, Escaméz e Gil (2003) acreditam na educação voltada para a responsabilidade individual e social baseada em quatro convicções básicas: 1. autonomia diante das contingências históricas; 2. assumir escolhas; 3. ética e responsabilidade social e ambiental; 4. liberdade para exercer a cidadania. Assim, o protagonismo juvenil é um conjunto de elementos articulados que conduzem à formação de um ser humano pleno.
Como os autores do artigo afirmam, os textos dos estudiosos citados sugerem uma homogeneidade cultural e homogeneidade no interior desses grupos etários, quando é possível observar que há características comuns entre os jovens de uma sociedade, mas também há, sobretudo, diferenças culturais e sociais “possíveis de serem encontradas não apenas entre os jovens de diferentes sociedades, mas também no interior da maioria delas”. Assim, “não faz sentido pensar a adolescência ou juventude como únicas e homogêneas, mas sim em adolescências e juventudes”.
Para aprofundar a compreensão dos contextos e o sentido do protagonismo é essencial esclarecer o conceito de resiliência, originário da física, o termo é encontrado nos textos de Barrientos e Lascano, e de Costa “como a capacidade de pessoas resistirem à adversidade, valendo-se da experiência assim adquirida para construir novas habilidades e comportamentos que lhes permitam sobrepor-se às condições adversas e alcanças melhor qualidade de vida”. Dessa forma, os autores inferem na hipótese de que as proposições relativas ao protagonismo parecem mirar dois grupos: “os jovens pobres na superação da adversidade vivida por eles e suas famílias” e os jovens, não incluídos entre os pobres, aos quais não se aplica o conceito de resiliência, mas por meio de ações voluntárias com objetivo de apoiar os setores empobrecidos tornam-se protagonistas.
Essas ações, entretanto, assim como ações da sociedade civil, valorizam o ativismo privado como solução para superar iniquidades e implicam na possibilidade de desviar um dever do Estado em garantir os direitos aos cidadãos. Neste sentido, os autores citam como exemplo o processo de inserção e manutenção no mercado de trabalho como responsabilidade apenas do indivíduo, sem considerar a situação de desemprego esteja relacionada ao cenário econômico global. Assim, “o protagonismo pode encaminhar a promoção de valores, crenças, ações, etc., de caráter mais adaptativo que problematizador”.É possível inferir ainda que o protagonismo juvenil seja um discurso com objetivo de motivar o adolescente a "sentir-se útil" à mudança social diante da atual descrença na política regida pelo Estado. Além do cenário de corrupção latente, estudiosos como García Canclini (2003) apontam o esvaziamento dos poderes locais pelo fenômeno da globalização e a predominância dos interesses de mercado e, dessa forma, decisões importantes para a sociedade estão num plano fora do controle dos governos e políticas nacionais. A sensação de impotência no indivíduo contemporâneo citada por Hannah Arendt apud Souza (2006, p. 11) como a "incapacidade básica de agir" é rompida pela "busca do espaço público" como possível modelo de ação política proposta no conceito de protagonismo juvenil. Dessa forma, a mudança social resultado da atividade direta do indivíduo anula a política, já que ao ser promovida por um determinado grupo, em muitas situações há objetivos estabelecidos e quantificáveis, atinge um número limitado de pessoas e gera um consenso de que é o caminho para a mudança social, papel que antes cabia à política.
Novaes (2000), entretanto, contesta as críticas de que “as ações de pequenos agrupamentos representantes de microinteresses significaria o fim da política e da democracia”. A autora defende a ação de jovens voluntários não originários dos setores empobrecidos tem uma importante conotação política no sentido de favorecer escolhas pessoais mais solidárias, sendo que na atualidade esta ação é compreendida como algo para obter efeito imediato, definida pelos objetivos e formas de ação e não necessariamente pelo local de atuação.
Neste sentido, as propostas de protagonismo com vistas à instituição e às práticas escolares é reiterada por Costa, ao esclarecer o conceito de educação por projetos que compreende uma metodologia integradora de disciplinas e áreas culturais distintas na qual a participação preponderante deve ser a dos estudantes e aos professores cabe a função de orientar/assessorar conteúdos.
Por fim, os autores alertam a responsabilidade dos professores, pesquisadores e especialistas ao cuidado com a apropriação de abordagens genéricas e abstratas para que o “protagonismo juvenil se afaste de um mero ativismo social – acrítico e apenas psicologicamente compensatório - ou da simples adaptação dos jovens às perversas condições da atual ordem econômica”.Referências bibliográficas (autores citados que não constam no artigo):
GARCIA CANCLINI, Nestor. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003.
SOUZA, Regina Magalhães de. O discurso do protagonismo juvenil. São Paulo: USP, 2006. 275 p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
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COSTA, Antonio Carlos Gomes da. O adolescente como protagonista. Cadernos Juventude. Disponível em: <http://www.adolec.br/bvs/adolec/P/cadernos/capitulo/cap07/cap07.htm>. Acesso em: 25/03/08.
O autor faz uma reflexão sobre as origens do conceito "protagonismo juvenil" ao responder sobre o tipo de jovem queremos formar: autônomo, solidário, competente e participativo. Neste sentido, o educando é o protagonista – ator principal no processo de seu desenvolvimento. O adolescente deixa de ser visto como parte do problema, mas como parte da solução de conflitos reais na escola, na comunidade e na sociedade.
Há um alerta para a importância de que a participação do adolescente seja de fato autêntica e não simbólica, decorativa e manipulada, ou seja, alvo de ações políticas, ou de organizações/pessoas com interesses diversos. Para o autor, a participação é a atividade formadora do ser humano.
A vivência de situações é apontada como o melhor caminho para que educando possa empreender, ele próprio, a construção do seu ser. Para tanto, é vital que o educador esteja emocionalmente envolvido com a causa da dignidade plena do adolescente, além de ter clareza conceitual de sua função como orientador de conteúdos, vontade política e compromisso ético.Por apontar as vivências como o melhor caminho para que educando possa empreender, ele próprio, a construção do seu ser, o autor elenca posturas práticas assumidas pelos adultos ao trabalhar com adolescentes, exemplifica com situações-problema, soluções possíveis, processo de tomada de decisão e conclui que o fundamental é acreditar sempre no potencial criador e na força transformadora dos jovens.
Entretanto, cabe uma reflexão sobre como preparar os educadores para esta função se parte deste contingente formou-se em pleno regime militar e não são estimulados pelas condições de trabalho. Estariam nossos educadores preparados para integrar jovens protagonistas? E o entorno sociofamiliar e comunitário estão preparados para contribuir e oferecer prontamente cenários para a vivência da cidadania? Neste caso, seria o ambiente da Cibercultura ferramenta propícia para divulgação de ideais e ações? De todo modo, sem mencionar a questão do acesso aos jovens em situação de pobreza, num mundo de informações e caminhos possíveis no ciberespaço é necessária uma direção/orientação dos caminhos a serem trilhados por jovens com pretensões ao protagonismo. Ficam as questões: quem dará tais orientações? seriam dos próprios jovens, segundo os conceitos de resiliência?
Não desconsidero a importância do protagonismo juvenil como método pedagógico e como possível aplicação à mudança social do local, mas após as leituras parece-me que são desafios muito maiores que o exposto no texto de Costa.
sábado, 29 de março de 2008
Resenhas dos artigos: O protagonismo juvenil na literatura especializada e na reforma do ensino médio e O adolescente como protagonista_Elisangela.
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