Ciberespaço/Cibercultura
Virilio,Paul.Estratégia da Decepção. São Paulo, Estação Liberdade, 2000
Este livro está dividido em quatro crônicas escritas entre 19 de abril e 15 de junho de 1999.
Primeira crônica: “Uma pretensa guerra humanitária dos países da OTAN para o Kosovo inquietou um crescente número de nações fracas e confirmou o receio de todos aqueles que se viam na iminência de, mais dia menos dia,ser alvo das nações ‘fortes’”(14).Na opinião de Virilio, isto seria contraproducente pois aumentaria em muito a ameaça crescente de proliferação nuclear, química e bacteriológica , em países preocupados em se proteger contra os efeitos de um ataque com armas de destruição em massa.
Deste raciocínio, Virilio conclui que os EUA teriam decidido desenvolver uma defesa antimíssil e proibir os outros países de adquirir estas tecnologias(visão partilhada também pela antiga Rússia, Ucrânia e Japão).Neste caso, o ‘dever de intervenção ‘ não seria mais um limite ético, mas estratégico.
Virilio termina sua primeira crônica com a seguinte reflexão: o espaço orbital estaria destinado a suplantar , no futuro, o espaço territorial?
Segunda crônica:neste segundo texto, conhecemos a opinião do autor sobre a guerra da informação e sua dimensão humanitária do ‘conflito dos direitos humanos’ nos quais as populações civis ficam na linha de frente:a limpeza ética em substituição à limpeza étnica de populações indesejáveis ou excedentes .
Sob sua perspectiva pessimista, o uso da cibernética dos sistemas tenderiam a dominar a vida das nações nos campos econômicos e políticos , além da geopolítica global.
Concluindo, o autor trata o confronto no espaço hertziano como continuidade ao que se processou no espaço aéreo dos Balcãs- um fenômeno cósmico : a polícia das estrelas(43).
Terceira crônica:desta vez, o autor retoma várias idéias dos dois textos anteriores sobre o fracasso da Otan na guerra do Kosovo, dando mais destaque ao que chamou de revolução dos assuntos militares.”Se a guerra do Golfo marca o fim do status quo do equilíbrio militar entre os blocos Leste /Oeste,a guerra do Kosovo marca o fim o fim do status quo do equilíbrio político”(46).
Para o autor, a era da revolução da informação é também a da desinformação: “Desinforma-se o telespectador afogando-o num mar de informações,de dados aparentemente contraditórios...a partir de agora, mais é menos!”(58/59)
Finalizando, mais uma vez Virilio acusa o desejo dos EUA, pós- queda do muro de Berlim, de se tornarem os ‘patrulheiros do mundo’,neutralizando o inimigo, criando pânico a sua volta.
Quarta crônica:nesta quarta e última crônica, Virilio acusa a posição e o status americano de controlador de um ‘ grande subúrbio mundial’.
O autor afirma que já não se tratava, para os EUA, de instalar uma guerra justa (neste subúrbio mundial), mas uma guerra legítima,e disto tinham que convencer a opinião pública . Quando a opinião pública passou a se voltar contra os aliados, na guerra dos Balcãs, deu-se conta de uma desinformação em escala industrial.Por um lado, uma estranha ‘defesa do gênero humano’ popularizada na mídia, uma espécie de preparação dos espíritos(shows, campanhas publicitárias, etc) para grandes manobras humanitárias.Por outro lado, imagens televisivas mostravam a miséria dos kosovares e sua mensagem subliminar: "amanhã será a sua vez"(83).
Por fim, Negroponte levanta a bola: “Com a liberalização da informação na Web, o que mais falta é o sentido...um contexto” ,e Virilio faz o gol: “...em que os internautas pudessem situar os fatos e distinguir assim o VERDADEIRO do FALSO”(89).
Observação: neste livro o discurso de Virilio é redutor,repetitivo e simplificado, encaixando a sociedade e a ciência tecnológica em esquemas dicotômicos - certo/errado ; bem/mal. Deste modo, ao serem tratados por esquemas maniqueístas , os temas acabaram perdendo a sua essência.
domingo, 23 de março de 2008
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